segunda-feira, 12 de julho de 2010

" Quem parte, de manhã bem cedo, para a caça, de barriga vazia
e as narinas frementes à menor mudança do vento, quem escuta,
inquieto, a ressaca bater na popa do barco, alertando os primeiros
odores das folhas por entre o muro espesso dos perfumes das algas
e do sal, quem aguça sua vida e seus ouvidos a distância?
Quem hoje, não tem necessidade de cartaz ou de mensagem para
se permitir ouvir, olhar, sentir, saborear? Órgãos arruinados,
empirismo em ruína; impressões perdidas, fantasmas.
Desde que falamos, perdemos os sentidos.
O que não desperta os sentidos, droga-os.
Toma cuidado com o torpor da língua e de filosofia;
foge das culturas de proibição.
A sabedoria emana do corpo: o mundo dá a sapiência,
e os sentidos a recebem, respeita o dado gratuito, acolhe o dom.
O mundo belo, oferece gratuitamente o sensível."


MICHEL SERRES

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