sábado, 4 de setembro de 2010

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono.
Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é
revolucionária por natureza; exercício espiritual é um método de
libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro.
Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem;
regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular.
Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio,
pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença.
Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação
do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes.
Nega a história: em seu seio resolvem-se todos os conflitos e o
homem adquire, afinal, a consciência de ser algo de passagem.
Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não-dirigido.
Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior;
linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras.
Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da odéia.
Loucura, êxtase, logos. regresso à infância, coito, nostalgia do
paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho atividade ascética.
Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo.
Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo,
e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da
harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação,
dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos,
palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e
minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada,
escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que
não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio,
bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!



OCTAVIO PAZ







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