quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

(...) Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano,
não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres
todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e
o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos.
Serão tantas que desistirás de contar.
Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano
tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam.
Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e
que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho
...


Caio Fernando Abreu

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