quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"Me alinhei ao lado dos humildes e descobri que não era bastante humilde
para ficar junto deles, falsa a minha curvatura, falso despojamento.
Me alinhei ao lado dos fortes e vi que não era suficientemente
forte para sustentar por mais tempo aquela arrogância, representava
planar sobre os outros porque acreditava que assim não seria
esmagada pelo rolo compressor. Teria que subir acima deste rolo,pisar nele
- Ah, meu Deus, mas era isso que eu queria?
Não também não era isso. Quis ficar só para ser verdadeira, agora queria
apenas ficar só e então sonhei que era uma rainha num coche desgovernado,
em vão chamei alguém que eu sabia por perto, onde? E o coche rodando
para trás, para os lados, sem cavalos e sem cocheiro.
Consegui descer e encontrei uma gata cor-de-mel com seu gatinho,
me aproximei enternecida, E o pai?perguntei e apareceu um leão de
juba desgrenhada e olhar de pedra.
Corri, tinha uma mulher na casa mas a mulher gesticulava e não podia
fazer nada enquanto o leão ia fechando o cerco, acordei com as pisadas
na minha retaguarda. Mas quem me detesta tanto assim para me atacar
até no sonho?
Quis saber e nesse instante vi minha imagem refletida no espelho...."


Lygia Fagundes Telles - A Disciplina do Amor

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