quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que

abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores

interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços,

pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e

nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e

apertam e esmagam essa pedra de fogo.

Como sangue, somos lágrimas.

Como sangue, existimos dentro dos gestos.

As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos.

E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos.

O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado.

Debaixo da pele, envolvemos as memórias,

as ideias, a esperança e o desencanto.




Antídoto, José Luís Peixoto

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