quinta-feira, 3 de março de 2011

Quem fará a história das lágrimas?

Em que sociedades, em que tempos se chorou?

Desde quando os homens ( e não as mulheres) não choram mais?

Por que a "sensibilidade" se transformou em dado momento em "pieguice"?

Qual é esse "eu" que tem "lágrimas" nos olhos?



Se tenho tantas maneiras de chorar, é porque, talvez, quando choro, me
dirijo sempre a alguém, e o destinatário das minhas lágrimas não é sempre
o mesmo: adapto minhas maneiras de chorar ao tipo de chantagem que
pretendo exercer ao meu redor através das lágrimas.

Me faço chorar para me provar que minha dor não é uma ilusão:
as lágrimas são signos e não expressões.
Através das minhas lágrimas, conto uma história, produzo um mito da
dor, e a partir de então me acomodo: posso viver com ela, porque,
ao chorar, me ofereço um interlocutor empático que recolhe a mais
"verdadeira" das mensagens, e do meu corpo e não a minha língua:
Que são as palavras? Um lágrima diz muito mais.


ROLAND BARTHES

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