Se não quero das palavras seu sentido, mas aquilo que carregam realmente,
e do incêndio quero o fogo e não a rima, da sombra o escuro
e não a posição gramatical, se do amor não quero nada, por querer
dizer coisas demais, então devo me chamar, como o naufrágo: Ninguém,
sem querer de ninguém o seu sentido, mas aquilo que vem antes,
ainda sem ter estado lá; se da terra quero o que brota e afunda,
mas antes que houvesse tempo, e habilidade, para chamar aos frutos,
frutos e aos mortos, mortos, então seria melhor apagá-las todas,
às palavras, uma a uma, às negras, pequenas aranhas,
livrando o dicionário dessa mácula, e beber o que foi tinta
até a boca ficar preta, e transformar a tinta em chuva, em tigre.
NUNO RAMOS
Enquanto o caos segue em frente
Há 8 anos
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