quinta-feira, 28 de abril de 2011

Liberdade é uma palavra que o sonho
humano alimenta, não há ninguém que
explique e... ninguém que não entenda.


CECÍLIA MEIRELES

Edward Cucuel

Edward Cucuel

" Assim como na segunda metade do verso, os maus poetas buscam

o pensamento que se ajusta à rima, na segunda metade da vida,

tendo se tornado mais receosas, as pessoas buscam as ações,
...
atitudes e situações que combinem com as de sua vida anterior,

de modo que exteriormente tudo seja harmonioso: mas sua vida

já não é dominada e repetidamente orientada por um pensamento

forte; no lugar deste surge a intenção de encontrar uma rima."



NIETZSCHE

Francis Picabia

O amor, umas vezes voa,

outras anda;

com este corre,
...
com aquele vai devagar;

A uns entibia,

e a outros abrasa;

A uns fere, e a outros mata;

Num mesmo ponto principia

a carreira dos seus desejos,

e ali mesmo os acaba e conclui;

Pela manhã, costuma colocar cerco

a uma fortaleza,

e à noite a leva de vencida,

porque não há força

que lhe resista.



(MIGUEL DE CERVANTES)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Paul Cézanne

" A compreensão humana, após ter adotado uma opinião,
coleciona quaisquer instâncias que a confirmem, e ainda
que as instâncias contrárias possam ser muito mais
numerosas e influentes, ela não as percebe, ou então as
rejeita, de modo que sua opinião permaneça inabalada."


FRANCIS BACON

René Zwaga

" Todos começamos com o "realismo ingênuo", isto é, a doutrina

de que as coisas são aquilo que parecem ser.

Achamos que a grama é verde, que as pedras são duras e

que a neve é fria. Mas a física nos assegura que o verdejar da

grama, a dureza das pedras e a frieza da neve não são o verdejar

da grama, a dureza das pedras e a frieza da neve que conhecemos

em nossa experiência própria, e sim algo muito diferente."


BERTRAND RUSSELL

Ceslovas Cesnakevicius

O Inconsciente

O Espectro familiar que anda comigo,
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que umas vezes encaro com desgosto
E outras muitas ansioso espreito e sigo.

É um espectro mudo, grave, antigo,
Que parece a conversas mal disposto...
Ante esse vulto, ascético e composto
Mil vezes abro a boca... e nada digo.

Só uma vez ousei interrogá-lo:
Quem és (lhe perguntei com grande abalo)
Fantasma a quem odeio e a quem amo?

Teus irmãos (respondeu) os vãos humanos,
Chamam-me Deus, ha mais de dez mil anos...
Mas eu por mim não sei como me chamo...



Antero de Quental



segunda-feira, 25 de abril de 2011

Alastair

"Se todo mundo pensasse por si, a confusão seria prodigiosa."


VOLTAIRE

Marina Grigoryan

Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa...flor de laranjeira...
Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes''
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...
A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...



MANUEL BANDEIRA

Alex Alemany

" As coisas vagas são anteriores a todas as coisas.
O que seríamos nós sem o socorro do que não existe?
Pouca coisa, e nossos espíritos desocupados feneceriam
se as fábulas, as abastrações, as crenças e os monstros,
as hipóteses e os pretensos problemas da metafísica não
povoassem de imagens e seres sem objetos nossas
profundezas e nossas trevas naturais.
Os mitos são as almas de nossas ações e de nossos amores.
Só podemos agir movendo-nos em direção a um fantasma.
Só podemos amar o que criamos."




Paul Valéry

sábado, 23 de abril de 2011

Leon Kelly

“Nós somos o texto.”

E nós seremos um povo tanto mais livre
quanto mais nós formos um texto vivo.


Pierre Lévy

James Whistler

" Platão, quando não conseguia dar respostas racionais,
inventava mitos. Ele contou que, antes de nascer, a alma
contempla todas as coisas belas do universo.
Essa experiência é tão forte que todas as infinitas formas de
beleza do Universo ficam eternamente gavadas em nós.
Ao nascer, esquecemo-nos delas. Mas não as perdemos.
A beleza fica em nós adormecida como um feto.
Assim, todos nós estamos grávidos de beleza, beleza que quer
nascer para o mundo qual uma criança.
Quando a beleza nasce, reencontramo-nos com nós mesmos
e experimentamos a alegria.
Acrescento ao mito a minha contribuição: há seres privilegiados
aos quais é dado acesso a esse mundo espiritual de beleza.
Eles veem e ouvem aquilo que nós nem vemos nem ouvimos.
Aí eles transformam o que viram e ouviram em objetos belos
que os homens normais podem ver e ouvir.
É assim que nasce a Arte".



RUBEM ALVES

Edouard Manet

O DESPERTAR

Entra a luz e ascendo inertemente
Dos sonhos para o sonho repartido
E as coisas recuperam o seu devido
E aguardado lugar e no presente

Concentra se, opressivo e vasto, o vago
Ontem: as seculares migrações
Das aves e dos homens, as legiões
Que o ferro destruiu, Roma e Cartago.

Também regressa a quotidiana história:
Meu rosto, minha voz, receio e sorte.
Ah, se aquele outro despertar, a morte

Me apresentasse um tempo sem memória
Do meu nome e de tudo o fui sendo!
Se nesse dia houvesse esquecimento!

Jorge Luis Borges

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Se a poesia não surgir tão naturalmente como

as folhas de uma árvore, é melhor que não surja mesmo.


JOHN KEATS

Gil Bruvel

Esses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados

nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras

simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes

o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) -

de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala

de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente,

outro ainda se se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante;

pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal,

os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo

- e alguns são demasiado absurdos e ridículos para

figurarem numa obra impressa.




Virginia Woolf, in "Orlando"


Edward Cucuel

Com lento amor olhava os dispersos


Tons da tarde. A ela comprazia

Perder-se na complexa melodia

Ou na curiosa vida dos versos.

Não o rubro elemental mas os cinzentos

Fiaram seu destino delicado,

Feito a discriminar e exercitado

Na vacilação e nos matizes.

Sem se atrever a andar neste perplexo

Labirinto, olhava lá de fora

As formas, o tumulto e a carreira,

Como aquela outra dama do espelho.

Deuses que habitam para lá do rogo

Abandonaram-na a esse tigre, o Fogo.


Jorge Luis Borges





terça-feira, 19 de abril de 2011

Edouard Manet

" Somos pelo menos únicos- até que outra espécie
desenvolva linguagem e tudo o que vem com ela -
e nossos "eus" não são órgãos e, certamente, não
são substâncias imateriais (egos ou res cogitans
cartesianos).
O "eu" é uma função útil, como os centros
de gravidade da Física."


DANIEL DENNETT

Abram Arkhipov

" Para nós, que não cremos, é muito fácil explicar em que cremos.

O que me parece misterioso é saber em que creem os que creem e,

sinceramente, por mais que os tenha escutado, eu nunca entendi

a que eles se referem. Nós, porém, os não crentes, acreditamos em

algo: no valor da vida, da liberdade e da dignidade, e em que o

gozo dos homens está em suas próprias mãos e de ninguém mais.

São os que devem enfrentar com lucidez e determinação sua

condição de solidão trágica, pois é essa instabilidade que dá

acesso à criação e à liberdade."


FERNANDO SAVATER

Odilon Redon

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

ALBERTO CAEIRO

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Martha Walters

" Só podemos dar o que já é do outro."


JORGE LUIS BORGES

Juan Miró

"Havia muito que nunca poderia se nomeado...

O reino do iniminável não era desprovido de forma.
Eu tinha de encontrar meu caminho dentro dele - como
se estivesse num cômodo, escuro feito breu, com mobília
sólida e objetos pontudos.
E, de qualquer maneira, a maior parte do que eu sabia,
a maioria de minhas intuições, eram inomináveis ou seus
nomes eram tão longos quanto livros inteiros
que eu ainda não havia lido."



JOHN BERGER

Alberto Sughi

Poema


De repente volta
o que nem sei se foi
sonhado ou vivido.
Que apelo me chega
desta voz que emerge
de tão fundas águas?
Alguém esquecido
no fundo dos tempos?
Meu anjo vencido?
Meu duplo secreto?
Que apelo indizível
me chama, me grita
que esqueça, que durma,
ou me divida em tantos
que nenhum seja eu?

Nem eu, nem ninguém.




EMILIO MOURA

quarta-feira, 13 de abril de 2011

James Whistler

Condições de palácio tem qualquer terra larga,
mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?
FERNANDO PESSOA

John Cotman

O que se conserva, a coisa ou obra de arte, é um bloco de sensações,

isto é, um composto de perceptos e afectos. Os perceptos não são mais

percepções, são independentes do estado daqueles que os experimentam;

os afetos não são mais sentimentos ou afecções, transbordam a força

daqueles que são atravessados por eles. As sensações, perceptos e

afectos, são seres que valem por si mesmos e excedem qualquer vivido.

Existem na ausência do homem, podemos dizer, porque o homem, tal como

ele é fixado na pedra, sobre a tela ou ao longo das palavras, é ele próprio

um composto de perceptos e afectos. A obra de arte é um ser de sensação,

e nada mais: ela existe em si.


Gilles Deleuze e Félix Guattari - O que é a filosofia?

Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou
de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.



MANOEL DE BARROS


terça-feira, 12 de abril de 2011

Winslow Homer

As pessoas levam muito tempo para ficar jovens.



PABLO PICASSO

Egon Schiele

TENTAÇÕES DO APOCALIPSE

Não é de poesia que precisa o mundo.
Aliás, nunca precisou. Foi sempre
uma excrescência escandalosa que
se lhe dissesse como é infame a vida
que não vivamos para outrem nele.
E nunca, só de ser, disse a poesia
uma outra coisa, ainda quando finge
que de sobreviver se faz a vida.
O mundo precisa de morte. Não da morte
com que assassina diariamente quantos teimam
em dizer-lhe da grandeza de estar vivo.
Nem da morte que o mata pouco a pouco,
e de que todos se livram no enterro dos outros.
Mas sim da morte que o mate como um percevejo,
uma pulga, um piolho, uma barata, um rato.
Ou que a bomba venha para estas culpas,
se foi para isso que fizemos filhos.
Há que fazer voltar à massa primitiva
esta imundície. E que, na torpitude
de existir-se, ao menos possa haver
as alegrias ingénuas de todo o recomeço.
Que os sóis desabem. Que as estrelas morram.
Que tudo recomece desde quando a luz
não fora ainda separada às trevas
do espaço sem matéria. Nem havia um espírito
flanando ocioso sobre as águas quietas,
que pudesse mentir-se olhando a criação.
(O mais seguro, porém, é não recomeçar.

JORGE DE SENA





Edouard Vuillard

"Toda sociedade que se constrói sobre o "fato" é bárbara;

sociedade da "desordem", uma vez que não existe potência

capaz de fundar a ordem através apenas do interdito dos

corpos sobre os corpos. Forças fictícias são necessárias...

A ordem exige, por isso, a ação de presença de coisas ausentes.

É, portanto, sobre "coisas vagas" que repousa toda civilização:

" o mundo transcendental, não existindo, suporta,

entretanto, pirâmides e catedrais."


PAUL VALÉRY

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Edward Dufner

A mortalidade flutua no ar, e todos aprendemos
que o tempo triunfa. Vivemos um intervalo e, então,
nosso lugar não mais nos reconhece.


HAROLD BLOOM

Armin Hansen

(...) É uma coisa bastante notável que não haja homens tão embrutecidos e tão
estúpidos, sem excluir mesmo os insanos, que não sejam capazes de arranjar
conjuntamente diversas palavras, e de compô-las num discurso pelo qual façam
entender seus pensamentos; e que, ao contrário, não exista outro animal,
por mais perfeito e bem concebido que possa ser, que faça o mesmo.
E isso não se dá porque lhes faltem, órgãos, pois os papagaios podem proferir
palavras assim como nós, e, todavia, não podem falar como nós, isto é,
testemunhando que pensam o que dizem. Por outro lado, os homens que, tendo
nascido surdos e mudos, são desprovidos de órgãos que servem aos demais
para falar, tanto ou mais que os animais, costumam inventar eles próprios alguns
símbolos pelos quais se fazem entender a sua língua. E isso não demonstra
apenas que os animais possuem menos razão do que os homens, mas que não a
possuem absolutamente. Vemos que é preciso muito pouco para saber falar;
e já que se nota a desiguladade entre os animais de uma mesma espécie,
assim como entre os homens, e que uns são mais fáceis de serem adestrados
do que outros, não é crível que um macaco ou um papagaio, por mais perfeitos
que fossem, em sua espécie, não igualassem uma criança das mais estúpidas
ou pelo menos que tivesse cérebro perturbado, se a sua alma não fosse
de uma natureza inteiramente diferente da nossa."


Discurso do Método - Descartes

Georges Seraut

OS JUSTOS


Um homem que cultiva seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sur jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acaricia um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas que se ignoram, estão salvando o mundo.



JORGE LUÍS BORGES

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cândido da Costa Pinto

O pêndulo da mente se altera entre perceber e não perceber,

e não entre certo e errado.

JUNG

Não toques nos objetos imediatos.
A harmonia queima.
Por mais leve que seja um bule ou uma chavená,
são loucos todos os objetos.
Uma jarra com um crisântemo transparente
tem um tremor oculto.
É terrível no escuro.
Mesmo o seu nome, só a medo o podes dizer.
A boca fica em chaga.



HERBERTO HELDER

Frederic Edwin Church

"Pejo não tendes, ó frígios! de mais uma vez vos cercardes

de um valo fundo e de opordes à Morte barreira tão frágil?

Com armas tais pretendeis disputar nossas belas esposas?

Que divindade ou delírio vos trouxe às paragens da Itália?

Não achareis entre nós nem Atridas nem falsos Ulisses.

Somos de estirpe robusta..."

(p.194)

ENEIDA - VIRGÍLIO

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Edward Cucuel

O Um não tem sentido.

Uma coisa não é nada.

Um só ser não é ninguém.


BAUDRILLARD
Já somos o esquecimento que seremos,
A poeira elementar que nos ignora,
Que não foi Adão e que é agora
Todos os homens.
Somos apenas duas metades:
A do princípio e a do término.
Não sou o insensato que se aferra
Ao mágico som de seu próprio nome.
Penso com esperança naquele homem que
Não saberá o que fui sobre a terra.
Abaixo do indiferente azul do céu,
Esta meditação é um consolo.



(JORGE LUÍS BORGES)

Gustave Moreau

Que é então a verdade? Um exército móvel de metáforas,

de metonímias, de antropomorfismos; em resumo, uma

soma de relações humanas que foram poética e retoricamente

intensificadas, transportadas e adornadas e que, depois de

um longo uso, parecem a um povo fixas, canônicas e

vinculativas: as verdades são ilusões que foram esquecidas

enquanto tais, metáforas que foram gastas e que ficaram

esvaziadas do seu sentido, moedas que perderam o seu

cunho e que agora são consideradas não mais como

moedas, mas como metal.


Friedrich Nietzsche

terça-feira, 5 de abril de 2011

John Twachtman

" Agora examino filosofias e religiões
Elas podem sair-se bem
Em salas de conferência, mas não provam nada
Sob as nuvens volumosas e ao longo da
Paisagem e dos crusos d'água corrente."


WALT WHITMAN
" ... seus passos ecoando na calçada me fazem pensar nos
caminhos que percorri e que ramificam como os galhos de
uma árvore.
Na obsessão de minha primeira juventude, imaginava a vida
diante de mim como uma árvore.
Chamava-a então de árvore das possibilidades.
É só por um período curto que se vê a vida assim.
Depois, ela aparece como uma estrada imposta de uma vez por todas,
como um túnel do qual não se pode sair.
No entanto, a antiga imagem da árvore permanece em nós
sob a forma de uma indelével nostalgia."


MILAN KUNDERA
Não te fies do tempo
nem da eternidade,
que as nuvens
me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam
contra o meu desejo!
Apressa-te, amor,
que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe,
em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...
apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo...

CECÍLIA MEIRELLES

domingo, 3 de abril de 2011

Sergey Rizkov

" Esse universo não nos prometeu nada.

A onda que nos afoga é a mesma que nos carrega.

A natureza não tem intenções. Não tem amor, mas tampouco ódio".

ALAIN

Joaquín Sorolla


" Não existe gente grande. Existem apenas crianças que fazem

de conta que cresceram, ou que de fato cresceram sem no

entanto acreditarem plenamente nisso, sem conseguir apagar

a criança que foram, que continuam sendo, apesar de tantas

mudanças, que carregam consigo como um segredo, como um

mistério, ou que as carrega...

Ser adulto é ser um coadjuvante".



ANDRÉ COMTE-SPONVILLE





Corda bamba


o poeta é mercador
traficante de caminhos
que vende raios,
sinfonias
e horizontes. frugal mercador de eternidades
– porta a porto –
aos quatro cantos do luar
ao mar
ao ar
sob o tempo
e o temporal.

o poeta corre o risco

entre o amor livre
e a palavra.
está sempre atrás do pano
em plena corda bamba
do mistério.
e atravessa submerso as metrópoles
dos olhares
feito um louco solitário
que come fogo.




SALGADO MARANHÃO