domingo, 29 de maio de 2011

Considerando a frio, imparcialmente,

que o homem é triste, tosse e, sem embargo,

se alegra em seu peito colorido;

que a única coisa que faz é compor-se

de dias;

que é lôbrego mamífero e se penteia...

Considerando

que o homem procede suavemente do trabalho

e ressoa chefe e soa subordinado;

que o diagrama do tempo

é constante diorama em suas medalhas

e, semi-abertos, seus olhos estudaram,

desde distantes tempos,

sua fórmula famélica de massa...

Compreendo sem esforço

que o homem fica, às vezes, pensando,

como querendo chorar,

e, sujeito a estender-se como objeto,

se torna bom carpinteiro, sua, mata

e depois canta, almoça, se abotoa...

Examinando, enfim,

suas contraditórias peças, sua latrina,

seu desespero, ao terminar o dia atroz, apagando-o...

Considerando também

que o homem é na verdade um animal

e, não obstante, ao voltear, me dá com sua tristeza na cabeça...

Compreendendo

que ele sabe que o quero,

que o odeio com afeto e me é, em suma, indiferente...

Considerando seus documentos gerais

e examinando com lentes aquele certificado

que prova que nasceu muito pequenino...

faço-lhe um sinal,

vem,

e lhe dou um abraço, emocionado.

Tanto faz! Emocionado... Emocionado...



César Vallejo



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