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Saudades! Sim... talvez... e porque não?...Se o nosso sonho foi tão alto e forteQue bem pensara vê-lo até à morteDeslumbrar-me de luz o coração!Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!Que tudo isso, Amor, nos não importe.Se ele deixou beleza que conforteDeve-nos ser sagrado como pão!Quantas vezes, Amor, já te esqueci,Para mais doidamente me lembrar,Mais doidamente me lembrar de ti!E quem dera que fosse sempre assim:Quanto menos quisesse recordarMais a saudade andasse presa a mim! Florbela Espanca
Quando abro a cada manhã a janela do meu quartoÉ como se abrisse o mesmo livroNuma página nova... Mário Quintana
O "eu" manifesta-se pouco fora das circunstâncias. Eu sou, eu existo nesta contingência misturada que muda, muda pela tempestade do outro, por sua possibilidade de existir. Nós nos colocamods um e outro, em afastamento do estável, no arriscado. No auge saturado da mistura, o êxtase da existência é uma soma tornada possível pela contingência do outro. Minha contingência torna possível a mesma descoberta para ele. Essa experiência de corpos misturados, dessas multiplicidades atenuadas compõem a vida. MICHEL SERRES
Construção da noiteNo casulo há um homemmas o fundo é o outro lado.No casulo de seu tempo há um homem,mas o fundo é o outro lado.É o casulo onde o homem foi achado,mas o fundo é o outro lado.É o terreno onde o homem foi lavrado,mas o fundo é o outro lado.É a treva onde o homem foi fechado,mas o fundo é o outro lado.É o silêncio de um homem soterrado,mas o fundo é o outro lado.Mas o fundo é o outro lado.É a infância que nasce sobre o morto,é a infância que cresce sobre o morto,é o sol que madruga no seu rosto,é um homem que salta do sol postoe convoca outros homens para o sonhoe mistura-se à terra e mistura-se ao sonho.E o canto recomeça além do sonho,além da escuridão, além do lago.Mas o fundo é o outro lado,mas o fundo principia sem passado,sem os montes, sem os barcos, sem o lago.Tua vida verdadeira é o outro lado.Tua terra verdadeira é o outro lado.Tua herança verdadeira é o outro lado.Tudo cessa.Tudo cessa,tudo cessa.Mas o mundoé o outro ladoque começa. Carlos Nejar