terça-feira, 5 de abril de 2011

Não te fies do tempo
nem da eternidade,
que as nuvens
me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam
contra o meu desejo!
Apressa-te, amor,
que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe,
em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...
apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo...

CECÍLIA MEIRELLES

domingo, 3 de abril de 2011

Sergey Rizkov

" Esse universo não nos prometeu nada.

A onda que nos afoga é a mesma que nos carrega.

A natureza não tem intenções. Não tem amor, mas tampouco ódio".

ALAIN

Joaquín Sorolla


" Não existe gente grande. Existem apenas crianças que fazem

de conta que cresceram, ou que de fato cresceram sem no

entanto acreditarem plenamente nisso, sem conseguir apagar

a criança que foram, que continuam sendo, apesar de tantas

mudanças, que carregam consigo como um segredo, como um

mistério, ou que as carrega...

Ser adulto é ser um coadjuvante".



ANDRÉ COMTE-SPONVILLE





Corda bamba


o poeta é mercador
traficante de caminhos
que vende raios,
sinfonias
e horizontes. frugal mercador de eternidades
– porta a porto –
aos quatro cantos do luar
ao mar
ao ar
sob o tempo
e o temporal.

o poeta corre o risco

entre o amor livre
e a palavra.
está sempre atrás do pano
em plena corda bamba
do mistério.
e atravessa submerso as metrópoles
dos olhares
feito um louco solitário
que come fogo.




SALGADO MARANHÃO