"Estou preso nesta contradição: de um lado, creio conhecer o outro melhor
do que ninguém e afirmo isso triunfalmente a ele (“Eu te conheço. Só eu te conheço bem!”) ;
e por outro lado sou frequentemente assaltado por essa evidência:
o outro é impenetrável, raro, intratável; não posso abri-lo, chegar até sua origem,
desfazer o enigma. De onde ele vem? Quem é ele?
Por mais que eu me esforce não o saberei nunca.
Isso porque não se sabe nada sobre o seu desejo:
conhecer alguém, não é apenas isso: conhecer seu desejo?
Se desgastar, se esforçar por um objeto impenetrável é pura religião.
Experimento então essa exaltação de amar profundamente um desconhecido."
Roland Barthes - Fragmentos de um Discurso Amoroso