sábado, 20 de setembro de 2014


"A conclusão evidente é que o amor e a amizade devem compreender toda a humanidade
e que devemos amar todos os nossos irmãos humanos sem discriminação.
Este mandamento não é novo. A nossa razão é perfeitamente capaz de compreender
a sua necessidade e a nossa sensibilidade é capaz de apreciar a sua beleza.
E no entanto, tal como somos feitos, somos incapazes de lhe obedecer."
 
 
 
Konrad Lorenz -  "A Agressão  - Uma História Natural do Mal"

"A característica do homem absurdo é não acreditar no sentido profundo das coisas.
Ele percorre, armazena e queima os rostos calorosos ou maravilhados.
O tempo caminha com ele. O homem absurdo é aquele que não se separa do tempo.
Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra.
São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da
descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade.
“Acho que tudo está bem”, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo
e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado.
Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto
das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado
entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside.
O seu destino pertence-lhe."
 
 
Albert Camus (1913-1960)

PARÓDIA 


Que Manoel Bandeira me perdoe, mas
Vou-me embora de Pasárgada
Vou-me embora de Pasárgada
Sou inimigo do Rei
Não tenho nada que eu quero
Não tenho e nunca terei
Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura
As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha,
Ainda é mais coerente
Do que os donos do país.

A gente só faz ginástica
Nos velhos trens da Central
Se quer comer todo dia
A polícia baixa o pau
E como já estou cansado
Sem esperança num país

Em que tudo nos revolta
Já comprei ida sem volta
Pra qualquer outro lugar
Aqui não quero ficar.
Vou-me embora de Pasárgada

Pasárgada já não tem nada
Nem mesmo recordação
E nem fome nem doença
Impedem a concepção
Telefone não telefona
Drogas são falsificadas
E prostitutas aidéticas
São as nossas namoradas.

E se hoje acordei alegre
Não pensem que vou ficar
Nosso futuro já era
Nosso presente já foi
Dou boiada pra ir embora
Pra ficar não dou um boi .
Dou quase nada, coisa pouca,
Somente uma vaca louca.
 
 
MILLÔR FERNANDES