terça-feira, 31 de janeiro de 2012

" Tenho tanta vergonha de ser feminina,
só por causa dos homens é que sou, porque gosto deles demais.

Emancipada eu não quero ser, quer ser amada, feminina, de lindas
mãos e boca de fruta, quero um vestido longo, um vestido
branco de rendas e um cabelo macio, quero um colchão de penas,
duas escravas bem limpas e quatro amantes: um músico,
um padre, um lavrador e meu marido.
Quero comer o mundo e ficar grávida, fredericar coisas e filhos.

Depois haja celeiro, haja lugar para tanta flor e fruto.
Mesmo se eu nunca escrever um verso, como desejo com
todas as forças, eu vou morrer satisfeita.
Meu corpo parece um terreno-eu, quero dizer."


ADÉLIA PRADO

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