" O diálogo é a conversa perfeita, porque tudo o que uma
pessoa diz recebe a sua cor definida, seu tom, seu gesto
de acompanhamento, em estrita referência àquele com
quem se fala. No diálogo há uma única refração do
pensamento: ela é produzida pelo interlocutor, como o
espelho no qual desejamos ver nossos pensamentos
refletidos do modo mais belo possível.
Mas como se dá com dois, tres ou mais interlocutores?
A conversa perde necessariamente a delicadeza individualizadora,
as várias referências se cruzam e se anulam; o que agrada a um
não satisfaz a índole do outro. Por isso o individuo é forçado,
lidando com muitos, a apresentar os fatos como são, tirando dos
assuntos o lúdico ar de humanidade que faz da conversa uma das
coisas mais agradáveis do mundo.
Ouça-se o tom em que os homens que lidam com grupos inteiros
de homens costumam falar, é como se o teor de todo o discurso
fosse: este sou Eu, isto seu Eu que digo, pensem disso o que
quiserem. Falar com muitos priva os homens de toda amabilidade
de espírito, e, apenas mostra, numa luz crua, a consciente
preocupação de si mesmo, a tática e a intenção de uma vitória pública."
NIETZSCHE