" A vida é uma preparação para a velhice. A afirmação de que "a vida é uma preparação para a morte" é uma das mais vãs e lamentáveis máximas da humanidade, infelizmente invocadas por homens da categoria de um Sócrates, de um Pascal. Mas é absurda, a não ser que pensemos que o homem "retorna" da morte à vida. preparar-se para um estado sem conteúdo? Para um limiar, na melhor das hipóteses? Para o nada, na pior? Não. A vida é uma longa preparação para o momento de glória em que o homem pode, enfim, realizar algo "por si mesmo", em que ele pode estar verdadeiramente em ato: uma preparação para o envelhecimento.
Se a vida não representa um crescendo, então não passa de um simples assunto de biologia. Quanto esplendor no envelhecimento - não na velhice, se a considerarmos sinônimo de decrepitude -, quanto esplendor nessa hora em que os pendores da vida se extinguem um a um, em que já não resta senão o essencial de nosse ser; essa hora em que vemos que tudo tendeu para um único ponto de acumulação, no qual se condensa e precipita nossa vida inteira. Estamos livres então de todas as tutelas, da espécie, da sociedade e até de nossos vãos impulsos e de nossas ambições; totalmente livres para nos tornar enfim homem, sujeito, e deixar de ser, assim, os pobres títeres que todos manipulavam. Deixamos de lado também todas as nossas esperanças insensatas - de que aconteça alguma coisa, de que o mundo inteiro vá mudar. Já não podemos aguardar, adiar, ter esperança. E é por isso que esta idade é a única em que não vivemos "em suspensão".
Os que envelhecem com plenitude - pouco numerosos, mas tão essenciais para o mundo - envelhecem como "supernovas" da humanidade: luzem com brilho sem igual e extinguem-se numa terrível explosão."
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