terça-feira, 8 de julho de 2014

CONSOLAÇÃO

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco
importa aonde vai no tempo dividido. Já não é
meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se
recorda. Quem de facto o amou?

Procura o seu igual no voto dos olhares. O espaço
que percorre é a minha fidelidade. Ele desenha a
esperança e ligeiro despede-a. Ele é
preponderante sem tomar parte em nada.

Vivo no seu abismo como um feliz destroço. Sem
que ele saiba, a minha solidão é o seu tesouro.
No grande meridiano onde inscreve o seu curso é
a minha liberdade que o escava.

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco
importa onde vai no tempo dividido. Já não é
meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se
recorda. Quem de facto o amou e de longe o
ilumina para que não caia?

René Char

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