segunda-feira, 21 de junho de 2010

Escrever deve ser um ato destituido de vontade. A palavra, como a

profunda corrente oceânica, tem que flutuar da superficie de seu

próprio impulso. Uma criança não tem nenhuma necessidade de escrever,

é inocente. Um homem escreve para destilar o veneno que acumulou

devido à sua maneira falsa de vida. Está tentando recapturar sua

inocência e no entanto tudo o que consegue fazer (escrevendo) é

inocular no mundo o vírus de sua desilusão. Homem nenhum colocaria

uma palavra no papel se tivesse a coragem de viver aquilo em que

acredita. Sua inspiração é desviada na fonte. Se é um mundo de

verdade, de beleza e magia que deseja criar, por que põe milhões

de palavras entre si e a realidade daquele mundo?

Por que retarda a ação - a não ser que, como outros homens,

o que realmente deseje seja o poder, a fama, o sucesso?


HENRY MILLER

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