O visível à nossa volta parece repousar em si mesmo.
É como se a visão se formasse em seu âmago ou como se
houvesse entre ele e nós uma familiaridade tão
estreita como a do mar e da praia.
No entanto, não é possível que nos fundemos nele nem que
ele penetre em nós, pois então a visão sumiria no momento
de formar-se, com o desaparecimento ou do vidente ou do
visível. Não há, portanto, coisas idênticas a si mesmas, que,
em seguida, se oferecessem a quem vê, não há um vidente,
primeiramente vazio, que em seguida se abre para elas,
mas sim algo de que não poderíamos aproximar-nos mais a
não ser apalpando-o com o olhar, coisas que não poderíamos
sonhar ver "inteiramente nuas", porquanto o olhar as envolve
e as veste com sua carne.
MERLEAU-PONTY
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