“O ditado de que a verdade triunfa sempre sobre a perseguição
é uma daquelas falsidades agradáveis que as pessoas repetem entre si
até chegarem ao estatuto de lugares-comuns, mas que toda a
experiência refuta. A história está repleta de exemplos de verdades
esmagadas pela perseguição. Mesmo que não sejam suprimidas
para sempre, poderão ser relegadas para o esquecimento durante séculos.
(…) A perseguição foi sempre bem sucedida, excepto quando os heréticos
constituíam uma facção demasiado forte para ser eficazmente perseguida.
(…) É apenas vã sentimentalidade pensar que a verdade, enquanto verdade,
tem um poder inerente – que o erro não tem – de prevalecer contra
a masmorra e a fogueira. As pessoas não se dedicam mais à verdade que
– como frequentemente acontece – ao erro, e uma aplicação suficiente
de punições legais e até sociais geralmente conseguirá travar a propagação
tanto de uma como de outro. A verdadeira vantagem da verdade é a seguinte:
quando uma opinião é verdadeira, pode ser extinta uma, duas ou até mais
vezes, mas no decorrer do tempo haverá geralmente pessoas que a
redescubram, até algum dos seus ressurgimentos calhar numa altura em que,
devido a circunstâncias favoráveis, escape à perseguição até ter adquirido
ímpeto suficiente para aguentar todas as tentativas subsequentes de a suprimir.”
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