Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que
abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores
interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços,
pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e
nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e
apertam e esmagam essa pedra de fogo.
Como sangue, somos lágrimas.
Como sangue, existimos dentro dos gestos.
As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos.
E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos.
O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado.
Debaixo da pele, envolvemos as memórias,
as ideias, a esperança e o desencanto.
Antídoto, José Luís Peixoto
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