sábado, 23 de abril de 2011

O DESPERTAR

Entra a luz e ascendo inertemente
Dos sonhos para o sonho repartido
E as coisas recuperam o seu devido
E aguardado lugar e no presente

Concentra se, opressivo e vasto, o vago
Ontem: as seculares migrações
Das aves e dos homens, as legiões
Que o ferro destruiu, Roma e Cartago.

Também regressa a quotidiana história:
Meu rosto, minha voz, receio e sorte.
Ah, se aquele outro despertar, a morte

Me apresentasse um tempo sem memória
Do meu nome e de tudo o fui sendo!
Se nesse dia houvesse esquecimento!

Jorge Luis Borges

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