“Da infância à morte, a ilusão envolve-nos. Só vivemos por ela e só
ela desejamos. Ilusões do amor, do ódio, da ambição, da glória,
todas essas várias formas de uma felicidade incessantemente
esperada, mantêm a nossa actividade. Elas iludem-nos sobre os nossos
sentimentos e sobre os sentimentos alheios, velando-nos a dureza do destino.
As ilusões intelectuais são relativamente raras; as ilusões afetivas
são cotidianas. Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar
racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas do
inconsciente. A ilusão afectiva persuade, por vezes, que entes e
coisas nos aprazem, quando, na realidade, nos são indiferentes.
Faz também acreditar na perpetuidade de sentimentos que a evolução
da nossa personalidade condena a desaparecer com a maior brevidade.
Todas essas ilusões fazem viver e aformoseiam a estrada que conduz ao
eterno abismo. Não lamentemos que tão raramente
sejam submetidas à análise.”
Gustave Le Bon - As Opiniões e as Crenças
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