segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Quando sinto a impulsão lírica, escrevo, sem pensar, tudo o que o meu
inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar
o que escrevi. Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente,
acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são
versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação
determinada. Arte que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em
prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisá-lo das pedras e
cercas de arame no caminho: deixe que tropece, caia e se fira.
Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas,
de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos.
Que Arte porém não seja limpar versos de exageros coloridos.


Prefácio de Paulicéia Desvairada -  Mário de Andrade


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