Contudo, era necessário força para
suportar viver na pobreza, mas talvez uma outra força fosse ainda mais
premente: a de não ceder demasiado facilmente a tantos e tão diversos
estímulos, absorvendo apenas aqueles compatíveis com o próprio caráter e
deixando o restante de lado, para outros.
Uma nova nação surgiu, então em
Paris: a dos pintores. Hoje, ao passarmos em revista os nomes daqueles
cujas obras firmaram essa época, espantamo-nos diante da multiplicidade
de suas origens: cada país tinha os seus jovens em Paris, como se a
cidade, ela própria, como instância superior, os tivesse convocado para
prestar um serviço à pintura.
A despeito das privações, que
assumiram sem receio, foram atraídos pela perspectiva de estarem entre
seus pares, entre aqueles para os quais a luta não era menos dura, mas
que, como eles próprios, estavam imbuídos da fervorosa esperança de ali -
na capital mundial dos pintores - conquistarem a fama."
ELIAS CANETTI - O JOGO DOS OLHOS
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