" Tentar provar a não existência de Deus pode ser uma atividade divertida para ateus,
que encontram grande satisfação no desnudamento da idiotia de crentes.
Embora esse exercício tenha suas recompensas, a real questão não é se Deus existe ou não,
mas para onde levar a discussão ao se concluir que ele evidentemente não existe.
Deve ser possível manter-se como um ateu resoluto e, no entanto, esporadicamente
considerar as religiões úteis, interessantes e reconfortantes.
É possível ser ateu e, ainda assim, interessar-se pelas maneiras como as religiões
fazem sermões, promovem a moralidade, engendram um espírito de comunidade,
utilizam a arte e a arquitetura, inspiram viagens e estimulam a gratidão pela beleza da Natureza.
Num mundo ameaçado por fundamentalistas religiosos ou seculares, deve ser possível
equilibrar uma rejeição da fé e uma reverência seletiva por rituais e conceitos religiosos.
É quando paramos de acreditar que as religiões foram outorgadas do alto ou que são
totalmente insanas, que as coisas ficam mais interessantes.
Podemos então reconhecer que inventamos as religiões para servirem a duas necessidades
centrais: a de vivermos juntos em comunidade e a necessidade de lidar
com aterrorizantes graus de dor.
Deus pode estar morto, mas as questões urgentes que nos levaram a inventá-lo
ainda nos sensiblizam e exigem resoluções."
Alain de Botton - Religião para Ateus
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