O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas.
Se insinua nos nossos hábitos com a facilidade que outra droga não
tem, se prova sem se querer, como um veneno dado.
Não dói, não descora,
não abate - mas a alma que dele usa fica
incurável, porque não há
maneira de se separar do seu
veneno, que é ela mesma.
O sonho deve ser olhado alto, com uma consciência aristocrática
de o
estar fazendo existir. Dar demasiada importância ao sonho
seria dar
demasiada importância, afinal, a uma coisa que se
separou de nós
próprios, que se ergueu, conforme pode, em realidade,
e que, por isso,
perdeu o direito absoluto à nossa delicadeza para com ela.
Sonho porque sonho, mas não sofro o insulto próprio de dar
aos sonhos outro valor que não o de serem meu teatro íntimo.
FERNANDO PESSOA
Enquanto o caos segue em frente
Há 8 anos
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