quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Demetrio Sena
" As frases que os homens estão acostumados a repetir
 incessantemente acabam se tornando convicções
 e ossificando a inteligência."


GOETHE


Theodore Butler

" Serei eu tão difícil de ser entendido e tão fácil de ser mal-entendido

em todas as minhas intenções, planos e amizades?

Ah, nós, solitários e espíritos livres - sempre nos fazem de algum modo

perceber que parecemos constantemente diferentes daquilo qwue pensamos.

Embora aspiremos a nada mais que sermos verdadeiros e diretos,

somos cercados por uma teia de mal-entendidos e, apesar dos nossos

ardentes desejos, não conseguimos evitar que nossas ações sejam

turvadas por uma nuvem de falsa opinião, acordos precários,

quase-concessões, silêncio caridoso e interpretações errôneas."


Nietzsche


Gyula Bathyanya

Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.



José Jorge Letria

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


 " Em nossas grandes cidades a população não tem deus, está materializada
- sem vínculo, sem companheirismo, sem entusiasmo.
Não são homens, mas fomes, sedes, febres e apetites ambulantes.
Parece que apenas o cálcio em seus ossos os mantém de pé,
e não algum propósito valioso".

Emerson
ALBERT BIERSTADT
" O universo é um todo em movimento presidido pelo ritmo;
e o homem está em relação viva
com esse todo. Tudo muda porque tudo se comunica.
A metamorfose é a expressão desta vasta comunidade vital da qual o homem
é um dos termos.
Podemos mudar, ser pedras ou astros, se conhecemos a palavra
justa que abre as portas da analogia.
 
O homem moderno se serve da técnica como o seu antepassado das fórmulas
mágicas, sem que esta, aliás, lhe abra porta alguma.
Ao contrário, fecha toda possibilidade de contato com a natureza e com seus
semelhantes: a natureza virou um complexo sistema de relações causais no
qual as qualidades desapareceram e tranformaram-se em meras quantidades;
e seus semelhantes deixaram de ser pessoas e são utensílios, instrumentos.
 
Ninguém tem fé, mas todos têm ilusões. Só que as ilusões se evaporam e
resta então apenas o vazio: niilismo e vulgaridade.
A história do espírito laico ou burguês poderia intitular-se
como a série de Balzac:  As Ilusões Perdidas."
 
 
OCTAVIO PAZ
 
Anne Bachelier

O Poeta é Belo


O poeta é belo como o Taj-Mahal
feito de renda e mármore e serenidade

O poeta é belo como o imprevisto perfil de uma árvore
ao primeiro relâmpago da tempestade

O poeta é belo porque os seus farrapos
são do tecido da eternidade


Mario Quintana
 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pablo Picasso
" Ser "si mesmo" é condenar-se à mutilação porque o homem é apetite perpétuo de ser outro."
 
 
Octavio Paz
Pascale Pratte
"Quem vive para a poesia deve ler tudo. Quantas vezes, de uma simples brochura,
jorrou para mim a luz de uma imagem nova! Quando aceitamos ser animados por
imagens novas, descobrimos irisações nas imagens dos velhos livros.
As idades poéticas unem-se numa memória viva. A nova idade desperta a antiga.
A antiga vem reviver na nova. Nunca a poesia é tão uma como quando se diversifica.

Que benefícios nos proporcionam os novos livros! Gostaria que cada dia me
caíssem do céu, a cântaros, os livros que exprimem a juventude das imagens.
Esse desejo é natural. Esse prodígio, fácil. Pois lá em cima, no céu, não será o
paraíso uma imensa biblioteca?

Mas não basta receber, é preciso acolher. É preciso, dizem em uníssono o pedagogo
e a dieteticista, “assimilar”. Para isso, somos aconselhados a não ler com demasiada
rapidez e a cuidar para não engolir trechos excessivamente grandes.
Dividam, dizem-nos, cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem
necessárias para melhor resolve-las. Sim, mastiguem bem, bebam em pequenos goles,
saboreiem versos por verso os poemas. Todos esses preceitos são belos e bons.
Mas um princípio os comanda. Antes de mais nada, é necessário um bom desejo
de comer , de beber e de ler. É preciso ler muito, ler mais, ler sempre.

Assim, já de manhã, diante dos livros acumulados sobre a mesa, faço ao deus
da leitura a minha prece de leitor voraz: “A fome nossa de cada dia nos daí hoje…”
.
Gaston Bachelard -  A Poética do Devaneio

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

Konstantinos Kaváfis

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


 " As prisões são feitas com as pedras da Lei; os bordéis, com os tijolos da Religião."
 
 
William Blake
Paul Klee
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

Manuel Bandeira
Fotografia - Jokist
" Os antigos chineses viam o universo como a combinação cíclica
de dois ritmos: Yin e Yang. Não são ideias, são emblemas, imagens
que contêm uma representação concreta do universo.
Dotados de um dinamismo criador de realidades, Yin e Yang se
alternam e ao se alternarem engendram a totalidade.
 
Yin é o inverno, a estação das mulheres, a casa e a sombra.
Seu símbolo é a porta, o fechado e escondido que amadurece
na escuridão. Yang é a luz, os trabalhos agrícolas, a caça e a
pesca, o ar livre, o tempo dos homens, aberto. Calor e frio, luz
e escuridão; tempo de plenitude e tempo de decrepitude:
tempo masculino e tempo feminino - um aspecto dragão
e um aspecto serpente -, assim é a vida."
 
 
 
OCTAVIO PAZ - O ARCO E A LIRA

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Peter Doig
" A arte pode ser boa, má ou indiferente, mas qualquer que seja
a designação utilizada, nós devemos chamar-lhe arte:
uma arte má é, apesar disso, arte,
como uma má emoção é ainda uma emoção."
 
 
 
 
MARCEL DUCHAMP


 " O estatuto do desenho, no âmbito das artes plásticas, comporta uma
certa ambiguidade. Ele é o alicerce indispensável da pintura, escultura
e arquitetura; aparece como uma técnica de certo modo rudimentar,
dependente, preparatória, a que faltariam os elementos de uma
linguagem plástica autônoma. Mas é essa aparente pobreza intrínseca
do desenho que lhe dá o seu poder de utilização universal
- como se não fosse possível pintar ou esculpir sem saber desenhar;
como se toda e qualquer forma se esboçasse, necessariamente,
nessa grafia primeira que traça o desenho.
Como se no desenho estivesse contido o mistério
do aparecimento e da percepção das formas."
 
 
José Gil - "Escritos sobre Arte"



Gari Melchers
A realidade é coisa delicada,
de se pegar com as pontas dos dedos.

Um gesto mais brutal, e pronto: o nada.
A qualquer hora pode advir o fim.
O mais terrível de todos os medos.

Mas, felizmente, não é bem assim.
Há uma saída – falar, falar muito.
São as palavras que suportam o mundo,
não os ombros. Sem o “porquê”, o sim”,

todos os ombros afundavam juntos.
Basta uma boca aberta (ou um rabisco
num papel) para salvar o universo.
Portanto, meus amigos, eu insisto:
falem se parar. Mesmo sem assunto.





Paulo Henriques Britto