quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

"Quem vive para a poesia deve ler tudo. Quantas vezes, de uma simples brochura,
jorrou para mim a luz de uma imagem nova! Quando aceitamos ser animados por
imagens novas, descobrimos irisações nas imagens dos velhos livros.
As idades poéticas unem-se numa memória viva. A nova idade desperta a antiga.
A antiga vem reviver na nova. Nunca a poesia é tão uma como quando se diversifica.

Que benefícios nos proporcionam os novos livros! Gostaria que cada dia me
caíssem do céu, a cântaros, os livros que exprimem a juventude das imagens.
Esse desejo é natural. Esse prodígio, fácil. Pois lá em cima, no céu, não será o
paraíso uma imensa biblioteca?

Mas não basta receber, é preciso acolher. É preciso, dizem em uníssono o pedagogo
e a dieteticista, “assimilar”. Para isso, somos aconselhados a não ler com demasiada
rapidez e a cuidar para não engolir trechos excessivamente grandes.
Dividam, dizem-nos, cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem
necessárias para melhor resolve-las. Sim, mastiguem bem, bebam em pequenos goles,
saboreiem versos por verso os poemas. Todos esses preceitos são belos e bons.
Mas um princípio os comanda. Antes de mais nada, é necessário um bom desejo
de comer , de beber e de ler. É preciso ler muito, ler mais, ler sempre.

Assim, já de manhã, diante dos livros acumulados sobre a mesa, faço ao deus
da leitura a minha prece de leitor voraz: “A fome nossa de cada dia nos daí hoje…”
.
Gaston Bachelard -  A Poética do Devaneio

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