“A
comida, mais do que as especulações místicas, é uma maneira segura de
se aproximar de um povo e de sua cultura. Já assinalei que muitos dos
sabores da cozinha indiana são também os da mexicana. Contudo, há uma
diferença essencial, não nos sabores senão na apresentação: a cozinha
mexicana consiste em uma sucessão de pequenos pratos. Trata-se,
provavelmente, de uma influência espanhola. Na cozinha europeia esta
sucessão de pratos obedece a uma ordem muito precisa. É uma cozinha
diacrônica, como disse Lévi-Strauss, na qual os guisados seguem um após o
outro, numa espécie de marcha interrompida por breves pausas. É uma
sucessão que evoca tanto o desfile militar como a procissão religiosa. O
mesmo acontece com a teoria, no sentido filosófico da palavra. A
cozinha europeia é uma demonstração. A cozinha mexicana obedece
à mesma lógica, embora não com o mesmo rigor: é uma cozinha mestiça.
Nela intervém outra estética: o contraste, por exemplo, entre o picante e
o doce. É uma ordem violada ou pontuada por certo exotismo. Diferença
radical: na Índia as diferentes iguarias juntam-se num único grande
prato. Não há sucessão nem desfile, mas sim aglutinação e sobreposição
de substâncias e de sabores: comida sincrônica. Fusão dos sabores, fusão
dos tempos.”
OCTAVIO PAZ
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