sábado, 14 de junho de 2014


Ode à Melancolia


"É que a Melancolia tem,
velada, o seu supremo santuário,
Embora só a veja aquele
cuja língua estrênua
Rebente a uva da Alegria
contra o céu da boca."
 
 


JOHN KEATS

" A realidade que nomeia a palavra civilização não se deixa definir com facilidade.
É a visão do mundo de cada sociedade, mas é também o seu sentimento do tempo:
há povos lançados para o futuro e outros que têm os olhos fixos no passado.
Civilização é estilo, a maneira que uma sociedade tem de viver, conviver e morrer.
Corresponde as artes eróticas e as culinárias; a dança e o funeral; a cortesia e a injúria;
o trabalho e o ócio; os ritos e as festas; os castigos e os prêmios; o trato com os mortos
e com os fantasmas que povoam os nossos sonhos; as atitudes diante das mulheres
e das crianças, dos velhos e dos estrangeiros, dos inimigos e dos aliados;
da eternidade e do instante; do aqui e do ali...
Uma civilização não é apenas um sistema de valores: é um mundo de formas e
de condutas, de regras e exceções. É a parte visível de uma sociedade
- instituições, monumentos, ideias, obras, coisas - porém é, sobretudo,
sua parte submersa, invisível: as crenças, os desejos,
os medos, as repressões, os sonhos."
 
 
 
OCTAVIO PAZ


“A gente não parte. Retoma o caminho, e carregando meu vício,
o vício que lançou raízes de dor ao meu lado desde a idade da razão,
e sobe ao céu, me bate, me derruba, me arrasta. 
A última inocência e a última timidez.
Está dito. Não levar ao mundo meus dissabores e minhas traições. 
Vamos! O ir, o fardo, o deserto, o tédio e a cólera.
A quem me alugar? Que animal é preciso que adore?
Que santa imagem nos agredirá? Que corações partirei?
Que mentira devo sustentar? Em que ânimo avançar? 
Antes de tudo, acautelar-se com a justiça.
A dura vida, o simples embrutecimento; levantar, com a mão seca,
a tampa do caixão, sentar, se asfixiar.
Assim nada de velhice nem de perigos: o terror não é francês.
Ah! Estou tão abandonado que ofereço à não importa que
imagem divina os impulsos para a perfeição.
Ó minha abnegação, ó minha maravilhosa caridade!
Aqui na terra, no entanto.
De profundis Domine, estou aparvalhado!”
 
 
ARTHUR RIMBAUD =  UMA TEMPORADA NO INFERNO


 
Rimbaud foi a criança rebelde e genial; o maldito poeta adolescente, capaz de mergulhar
nas profundezas das origens. O inocente sem medidas. “O maior de todos”,
segundo Vinicius de Moraes; a “vida inimitável” segundo Verlaine.
E por Henry Miller: ‘A última palavra do desespero, da revolta, da maldição.
A poesia tudo deve a Rimbaud. Até agora ninguém o superou em audácia e imaginação’.

terça-feira, 3 de junho de 2014


"Quanto mais eu fracasso no luto da imagem, mais fico angustiado; 
mas, quanto mais eu consigo, mais me entristeço. Se o exílio do Imaginário 
é o caminho necessário para a “cura”, convenhamos que o progresso é triste. 
Essa tristeza não é uma melancolia, pois não me acuso de nada e não fico 
prostrado. Minha tristeza pertence a essa faixa de melancolia onde a perda 
do ser amado fica abstrata. Falta redobrada: não posso nem mesmo investir 
minha infelicidade, como no tempo em que eu sofria por estar apaixonado.
Nesse tempo, eu desejava, eu sonhava, eu lutava; diante de mim havia um
bem, apenas retardado, atravessado por contratempos. Agora, não há mais
repercussão; tudo está calmo e é pior. Embora justificado por uma economia 
- a imagem morre para que eu viva – o luto amoroso tem sempre um resto: 
uma palavra volta sem parar: Que pena!” 

ROLAND BARTHES


" O que me surpreende, em nossa sociedade, é que a Arte se relaciona
apenas com objetos e não com indivíduos ou a vida; e que também
seja um domínio especializado, um domínio de peritos, que são os artistas.
Mas a vida de todo indivíduo não poderia ser uma obra de arte?
Por que uma lâmpada ou uma casa são objetos de arte,
mas nossas vidas não?"


Foucault

EM MEU OFÍCIO OU ARTE TACITURNA

Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.
Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.



DYLAN THOMAS