“A gente não parte. Retoma o caminho, e carregando meu vício,
o vício que lançou raízes de dor ao meu lado desde a idade da razão,
e sobe ao céu, me bate, me derruba, me arrasta.
A última inocência e a última timidez.
A última inocência e a última timidez.
Está dito. Não levar ao mundo meus dissabores e minhas traições.
Vamos! O ir, o fardo, o deserto, o tédio e a cólera.
A quem me alugar? Que animal é preciso que adore?
Vamos! O ir, o fardo, o deserto, o tédio e a cólera.
A quem me alugar? Que animal é preciso que adore?
Que santa imagem nos agredirá? Que corações partirei?
Que mentira devo sustentar? Em que ânimo avançar?
Antes de tudo, acautelar-se com a justiça.
Antes de tudo, acautelar-se com a justiça.
A dura vida, o simples embrutecimento; levantar, com a mão seca,
a tampa do caixão, sentar, se asfixiar.
Assim nada de velhice nem de perigos: o terror não é francês.
Ah! Estou tão abandonado que ofereço à não importa que
Ah! Estou tão abandonado que ofereço à não importa que
imagem divina os impulsos para a perfeição.
Ó minha abnegação, ó minha maravilhosa caridade!
Ó minha abnegação, ó minha maravilhosa caridade!
Aqui na terra, no entanto.
De profundis Domine, estou aparvalhado!”
ARTHUR RIMBAUD = UMA TEMPORADA NO INFERNO
Rimbaud foi a criança rebelde e genial; o maldito poeta adolescente, capaz de mergulhar
nas profundezas das origens. O inocente sem medidas. “O maior de todos”,
segundo Vinicius de Moraes; a “vida inimitável” segundo Verlaine.
E por Henry Miller: ‘A última palavra do desespero, da revolta, da maldição.
A poesia tudo deve a Rimbaud. Até agora ninguém o superou em audácia e imaginação’.
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