quinta-feira, 2 de setembro de 2010

(...) Escreveu Dostoievsky: «Se Deus não existisse, tudo seria permitido.»

É esse o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido

se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem encontra-se abandonado,

porque não encontra em si, nem fora de si, a que agarrar-se.

Ao começo não tem desculpa. Se, na verdade, a existência precede a

essência, não é possível explicação por referência a uma natureza humana

dada e hirta; dito de outro modo, não há determinismo, o homem é livre,

o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos

em face de nós valores ou ordens que legitimem a nossa conduta.

Assim, não temos nem por detrás de nós nem à nossa frente, no domínio

luminoso dos valores, justificação ou desculpas. Estamos sozinhos, sem

desculpa. É o que exprimirei dizendo que o homem está condenado a ser livre.

Se suprimi Deus Pai, cumpre que alguém invente os valores.

Temos de tomar as coisas como elas são. Aliás, dizer que inventamos os

valores não significa senão isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de

vivermos, a vida é coisa nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe

um sentido, e o valor não é outra coisa senão o sentido

que tivermos escolhido.



Jean-Paul Sartre - O Existencialismo é um Humanismo






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