quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sais pelo sonho como de um casulo e voas.
Com tal leveza podes percorrer o mapa e ir
e vir ao acaso, ar e nome:
como borboletas.
Não és tu, mas a tua memória com asas.
E abrem-se os palácios,
e percorres os tesouros guardados,
e és sorriso e silêncio
e já nem precisa mais de asas.
Na noite encontras o dia, claro e durável.
Voas sobre séculos e horóscopos.
Ouves dizer que te amam
como ninguém jamais o poderia confessar.
Não tens idade nem trigo,
nem rosto nem profissão.
Podes fazer o que quiseres com palavras,
harpas,
almas...
E quando voltas ao teu casulo
já não tens medo nenhum da morte.
E em teu pensamento há néctar e pólen.


Cecília Meireles

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