Quase nunca tenho tristeza, e menos ainda tédio.
O estudo tem sido para mim o remédio soberano contra os desgostos da vida,
e jamais tive tristeza de que uma hora de leitura não me tenha livrado.
Acordo de manhã com uma alegria secreta; vejo a luz com uma espécie
de arrebatamento. Todo o resto do dia fico contente.
Passo a noite sem acordar e, à noite, quando vou para a cama, uma
espécie de entorpecimento me impede de fazer reflexões.
Quando viajei pelos países estrangeiros, liguei-me a eles como ao meu
próprio: tomei parte da sorte deles, e gostaria que estivessem num
estado florescente.
Nunca me irritei de passar por distraído: isso me permitiu arriscar-me
a cometer muitas negligências que me teriam encabulado.
Quanto à maior parte das pessoas, prefiro aprová-las a escutá-las.
Jamais vi correrem lágrimas sem me enternecer.
Perdoo facilmente, pela razão de que não sei odiar. Parece-me que o
ódio é doloroso. Quando alguém quis se reconciliar comigo, senti minha
vaidade lisonjeada e parei de ver como inimigo um homem que me
prestava o serviço de me dar uma boa opinião de mim.
Quando se esperou que eu brilhasse numa conversa, jamais o fiz.
Prefiro ter um homem de espírito a me apoiar do que muitos tolos a me aprovar.
Se eu soubesse de uma coisa útil para minha nação que fosse
destruidora para outra, não a proporia ao meu príncipe, porque sou
homem antes de ser francês, (ou então) porque sou necessariamente
homem, e só sou francês por acaso.
Se eu soubesse de alguma coisa que me fosse útil e que fosse prejudicial
à minha família, eu a expulsaria do meu espírito. Se soubesse de alguma
coisa útil à minha família e que não o fosse à minha pátria, eu tentaria
esquecê-la. Se eu soubesse de alguma coisa útil à minha pátria, e que
fosse prejudicial à Europa, ou que fosse útil à Europa e prejudicial ao
gênero humano, eu a consideraria um crime.
Não esposo opiniões, exceto as dos livros de Euclides.
Eu dizia: “Não faço parte das vinte pessoas que conhecem essas ciências
em Paris, nem das cinquenta mil que crêem conhecê-la”.
Alguém me reprochou de ter mudado a seu respeito. Eu lhe disse:
“Se é uma mudança para você, é uma revolução para mim”.
MONTESQUIEU
Enquanto o caos segue em frente
Há 8 anos
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