quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Quase nunca tenho tristeza, e menos ainda tédio.

O estudo tem sido para mim o remédio soberano contra os desgostos da vida,

e jamais tive tristeza de que uma hora de leitura não me tenha livrado.

Acordo de manhã com uma alegria secreta; vejo a luz com uma espécie

de arrebatamento. Todo o resto do dia fico contente.

Passo a noite sem acordar e, à noite, quando vou para a cama, uma

espécie de entorpecimento me impede de fazer reflexões.

Quando viajei pelos países estrangeiros, liguei-me a eles como ao meu

próprio: tomei parte da sorte deles, e gostaria que estivessem num

estado florescente.

Nunca me irritei de passar por distraído: isso me permitiu arriscar-me

a cometer muitas negligências que me teriam encabulado.

Quanto à maior parte das pessoas, prefiro aprová-las a escutá-las.

Jamais vi correrem lágrimas sem me enternecer.

Perdoo facilmente, pela razão de que não sei odiar. Parece-me que o

ódio é doloroso. Quando alguém quis se reconciliar comigo, senti minha

vaidade lisonjeada e parei de ver como inimigo um homem que me

prestava o serviço de me dar uma boa opinião de mim.

Quando se esperou que eu brilhasse numa conversa, jamais o fiz.

Prefiro ter um homem de espírito a me apoiar do que muitos tolos a me aprovar.

Se eu soubesse de uma coisa útil para minha nação que fosse

destruidora para outra, não a proporia ao meu príncipe, porque sou

homem antes de ser francês, (ou então) porque sou necessariamente

homem, e só sou francês por acaso.

Se eu soubesse de alguma coisa que me fosse útil e que fosse prejudicial

à minha família, eu a expulsaria do meu espírito. Se soubesse de alguma

coisa útil à minha família e que não o fosse à minha pátria, eu tentaria

esquecê-la. Se eu soubesse de alguma coisa útil à minha pátria, e que

fosse prejudicial à Europa, ou que fosse útil à Europa e prejudicial ao

gênero humano, eu a consideraria um crime.

Não esposo opiniões, exceto as dos livros de Euclides.

Eu dizia: “Não faço parte das vinte pessoas que conhecem essas ciências

em Paris, nem das cinquenta mil que crêem conhecê-la”.

Alguém me reprochou de ter mudado a seu respeito. Eu lhe disse:

“Se é uma mudança para você, é uma revolução para mim”.



MONTESQUIEU

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