quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Uma grande formação de pássaros cruzou o céu em sentido contrário ao dele, migrando para longe. Rebanhos inteiros fugiram quando ele chegou, pisoteando as crias. Filhotes morreram, literalmente, de susto, assim que o avistaram de longe. Vestia uma bata larga, cor de carne, e caminhava sem rumo. Os peixes do açude boiaram de barriga para cima quando estendeu as mãos em concha para beber.

Andava pela mata e pelos pastos como se fosse um ermitão, tolerado pelos fazendeiros e capatazes, que não sabiam quem ele era. Gostava de se esconder na vegetação, perto dos riachos. Uma onça o atacou ali, mas ele a matou com um simples toque em sua pata. Era assim, com um leve gesto, que extinguia as capivaras e as pacas. Para ele o vegetal parecia prata; a noite parecia ouro, luz dourada, e os pastos verdes eram vermelhos, quase rosa. Nunca comeu os animais que matava, pois só tolerava folhas e raízes moles, e seus dentes fracos não aguentariam morder a carne; nunca fez mal a outro homem. Caminhava (caminha ainda) pelos pastos intermináveis de Goiás e Tocantins sem levantar suspeita, matando de longe ou com o toque de seus dedos, levando a aftosa, a sarna e a gripe aos rebanhos.

Animais não falam, mas sabem quem ele é.

NUNO RAMOS

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