Nós vamos ensinar a você o fervor. Nossos atos se
prendem a nós, como ao fósforo sua luz.
Nos consome, é verdade mas fazem nosso esplendor.
E se nossa alma valeu alguma coisa é por ter ardido
mais intensamente do que outras. Vamos ensinar a
você o fervor. Uma existência patética.
Não a tranquilidade. Ser tranquilo é ser trágico.
Eu não almejo outro repouso que o sono da morte.
Espero depois de ter exprimido nesta terra tudo o
que havia em mim, satisfeito morrer completamente.
Desesperado por fazer ainda mais.
Nossa vida há de ser diante de nós como um
copo de água gelada. O copo úmido nas mãos de
quem tem febre e quer beber, e bebe tudo de uma
vez. Sabendo que devia guardar, mas não podendo
tirar dos lábios o copo delicioso. Tão fresca é a água
E tão apaziguadora a sede.
ANDRÉ GIDE
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