quarta-feira, 30 de novembro de 2011
lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira
lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho,
torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer.
Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a
água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa,
e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar
do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram
a roupa lavada na corda ou no varal para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa.
A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso;
a palavra foi feita para dizer.
Graciliano Ramos
mas não me importei com isso.
Eu não sou negro.
Em seguida, levaram alguns operários,
mas não me importei com isso.
Eu também não sou operário.
Depois prenderam os miseráveis,
mas não me importei com isso,
porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados,
mas como tenho meu emprego,
também não me importei.
Agora estão me levando,
mas já é tarde.
Como não me importei com ninguém,
ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Se o livro que estamos lendo não nos acorda com uma pancada na
cabeça, por que o estamos lendo?
Porque nos faz felizes, como você escreve?
Bom Deus, seríamos felizes precisamente se não tivéssemos livros
e a espécie de livros que nos torna felizes é a espécie de livros
que escreveríamos se a isso fôssemos obrigados.
Mas nós precisamos de livros que nos afetam como um desastre,
que nos magoam profundamente, como a morte de alguém a
quem amávamos mais do que a nós mesmos, como ser banido
para uma floresta longe de todos.
Um livro tem que ser como um machado para quebrar
o mar de gelo que há dentro de nós.
É nisso que eu creio."
Franz Kafka
Entrar dentro de uma pedra
Seria esse o meu caminho.
Deixar outrem tornar-se pombo
Ou rilhar com dentes de tigre.
Sou feliz por ser uma pedra.
Por fora, a pedra é um enigma:
Ninguém sabe como o desvendar.
Dentro, porém, deve ser fresca e silenciosa
Mesmo que uma vaca a calque com todo o seu volume,
Mesmo que uma criança a atire para um rio;
A pedra afunda-se, lenta, imperturbavelmente
Até ao fundo do leito
Onde os peixes vêm bater na pedra
E escutar.
Eu vi as faíscas voando
Quando duas pedras são friccionadas,
Talvez então não seja escuro, apesar de tudo, lá dentro;
Talvez exista uma lua brilhando
Desde algures, como se por trás de uma colina –
Apenas a luz suficiente para distinguir
Os estranhos escritos, as cartas astrais
Nas paredes de dentro.
CHARLES SIMIC
domingo, 27 de novembro de 2011
Os instantes que não vivi junto ao mar."
Sophia de Mello Breyner Andresen
Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet,
príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos
― vis porque são nossos e vis porque são vis.
O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são formas
elementares da arte, ou, antes, de produzir o mesmo efeito
que ela. Mas amor, sono, e drogas tem cada um a sua desilusão.
O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se
dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de
aquele mesmo físico que serviram de estimular.
Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida
desde o princípio. Da arte não há despertar, porque nela não
dormimos, embora sonhássemos.
Na arte não há tributo ou multa que paguemos
por ter gozado dela.
O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não
é nosso, não temos nós que pagá-lo ou
que arrepender-nos dele.
Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja
nosso ― o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem,
o poente, o poema, o universo objetivo.
FERNANDO PESSOA - O LIVRO DO DESASSOSSEGO
"E a morte perderá o seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.
E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.
E a morte perderá o seu domínio.
Não hão-de gritar mais as gaivotas aos seus ouvidos
nem as vagas romper tumultuosamente nas praias;
onde se abriu uma flor não poderá nenhuma flor
erguer a sua corola em direcção à força das chuvas;
ainda que estejam mortas e loucas, hão-de descer
como pregos as suas cabeças pelas margaridas;
é no sol que irrompem até que o sol se extinga,
e a morte perderá o seu domínio."
Dylan Thomas
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
de conhecimento, e uma paixão incansável de progredir nele, bem como
uma satisfação em cada passo à frente. Houve época em que pensei
que isso, apenas, podia construir a honra da humanidade, e desprezei
o homem comum que nada sabe. Rousseau me corrigiu. Esse conceito
cego desapareceu: aprendi a respeitar a natureza humana, e me
consideraria muito menos útil do que o trabalhador comum, se não
acreditasse que essa opinião dá a todos os demais o valor necessário
para estabelecer os direitos do homem."
ENMMANUEL KANT
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?
Charles Bukowski
terça-feira, 22 de novembro de 2011
tanto o isolamento como o convívio.
Excessiva comunicação, debates exagerados de assuntos
que requerem meditação e peso moral, avesso muitas vezes à
cordialidade natural das afinidades eletivas,
não enriquecem o património de uma sociedade.
Antes embotam e alteram o terreno imparcial da sabedoria.
A solidão favorece a intensidade do pensamento; por outro lado,
torna de certo modo celerado o homem que lida com a força material,
com a técnica, com os outros homens.
O impulso é a força que atualiza estas duas atitudes.
Os ricos de impulso que se prontificam a uma reação agressiva
ou escandalosa, esses são associais especialmente difíceis.
Todo o revolucionário é associal, se o impulso for nele um desvio
da vida instintiva, e não uma atitude de homem capaz de
obedecer e mandar a si próprio.
«A felicidade máxima do filho da terra há-de ser a personalidade»
- disse Goethe. Personalidade criadora, obtida à custa do
ajustamento das nossas próprias leis interiores, que não serão
mais, no futuro, forças repelidas ou encobertas,
mas sim valiosas contribuições para o tempo do homem.
Quando tudo for analisado e conhecido, só o justo há-de prevalecer.
Agustina Bessa-Luís
Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.
Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.
O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.
Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.
CECÍLIA MEIRELES
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério,
primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis,
depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos
de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar.
Os bons e os maus resultados dos nossos ditos
e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma
bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias de futuro,
incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos
para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão,
aliás, há quem diga que isso é que
é a imortalidade de que tanto se fala (...)
José Saramago - Ensaio sobre a Cegueira
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida…
Quebrando pedras
e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos.
CORA CORALINA
domingo, 20 de novembro de 2011
Eu me construo e os construo continuamente,
e vocês fazem o mesmo.
E a construção dura enquanto o material dos nossos
sentimentos não desmorona, enquanto dura o
cimento da nossa vontade.
Por que vocês acham que se recomenda tanto a firmeza
de vontade ou a constância nos sentimentos?
Basta que esta vacile um pouco, ou que aquela se
altere em um ponto e mude minimamente...
e adeus nossa realidade!
Subitamente nos damos conta de que tudo não
passava de uma ilusão nossa.
Luigi Pirandello - Um, Nenhum e Cem Mil
Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio,
os anos que as linhas de minha mão asseguravam.
Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta.
Comeu as futuras viagens em volta da terra,
as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra.
Meu dia e minha noite.
Meu inverno e meu verão.
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça,
meu medo da morte.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
uma média alegre entre a grandeza que não há e a
felicidade que não pode haver.
No baile de máscaras que vivemos, basta-nos o agrado
do traje, que no baile é tudo.
Por mais que dispamos o que vestimos, nunca chegamos
à nudez, pois a nudez é um fenômeno da alma...
Assim com os nossos múltiplos trajes, vivemos felizes
ou infelizes, o breve espaço que nos dão os deuses
para os divertimos, como crianças que brincam jogos sérios.
FERNANDO PESSOA
domingo, 13 de novembro de 2011
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!…
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!…
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!…
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio…
Não sei se elas me compreendem
Nem sei eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
ALBERTO CAEIRO
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Até aguenta o que nunca chegou a fazer.
Até aguenta pensar como algumas coisas são
simplesmente demais para ele aguentar.
Até aguenta o fato de que, mesmo se fosse capaz
de simplesmente ceder à vontade de chorar,
não o iria fazer.
Até aguenta não olhar para trás, mesmo que saiba
que tanto olhar para trás como não olhar
não lhe fará bem nenhum.
Tem de tornar-se conhecedora, tem de tornar-se crítica.
Sempre que a dúvida quiser corromper qualquer coisa,
pergunte-lhe por que razão essa coisa é feia,
exija-lhe provas, examine-a, e talvez ela lhe pareça
perplexa e embaraçada, talvez mesmo irritante.
Mas não ceda, peça-lhe argumentos e proceda
sempre assim caso a caso, de modo atento e
consequente, e chegará o dia em que a dúvida
deixará de ser destruidora para se tornar um dos
seus melhores trabalhadores
– talvez o mais inteligente entre todos
os que constroem a sua vida."
Rainer Maria Rilke - Cartas a Um Jovem Poeta
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
tanto uma como outra dessas duas hipóteses são irritantes para o espírito.
De maneira mais geral: em toda explicação, e qualquer que seja seu objeto,
resta um porque, um como; ou surge um novo porque, um novo como.
Tudo o que nosso espírito possa compreender, explicar,
suas mais geniais descobertas, assim como suas mais exatas construções,
tudo isso se manterá em um sentido profundamente insatisfatório
para o próprio espírito.
Alguma coisa na explicação permanece inexplicável.
Após toda explicação, o caráter enigmático persiste.
Resolvido o enigma, esta própria solução se torna o grande enigma."
EDGAR MORIN
O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
CLARICE LISPECTOR
terça-feira, 8 de novembro de 2011
sem caligrafia, apenas com luz e saudade.
Palavras que, sendo minhas, não moraram nunca em mim.
Escrevo sem ter nada que dizer.
Porque não sei o que te dizer do que fomos.
Porque sou como os habitantes de Jesusalém.
Não tenho saudade, não tenho memória:
meu ventre nunca gerou vida, meu sangue não
se abriu em outro corpo.
É assim que envelheço: evaporada em mim,
véu esquecido num banco de igreja.
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo…
Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
JORGE DE SENA
sábado, 5 de novembro de 2011
vagueia por seu jardim; no entanto, ele se entedia.
Contra o tédio, até mesmo os deuses lutam em vão.
O que faz, então? Inventa o homem: o homem é divertido...
Mas eis que o homem também se entedia.
Deus cria outros animais. Primeiro equívoco de Deus:
o homem não achou os animais divertidos
- ele reinou sobre eles, não quis nem mesmo ser um "animal"
dentre outros.
Consequentemente, Deus criou a mulher.
E, de fato, o tédio chegou dessa maneira, ao fim..."
NIETZSCHE
Porque minha mente estava inquieta,
Eu colhi e limpei algumas nozes,
E apanhei uma cereja, curvando o seu fino ramo;
E, quando as claras mariposas estavam voando,
Parecendo pequenas estrelas, flutuando erráticas,
Eu lancei framboesas, como gotas, em um riacho
E capturei uma pequena truta prateada.
Quando eu a coloquei no chão
E fui soprar para reativar as chamas,
Alguma coisa moveu-se e eu pude ouvir,
E, alguém me chamou pelo meu nome:
Apareceu-me uma jovem, brilhando suavemente
Com flores de maçãs nos cabelos
Ela me chamou pelo meu nome e correu
E desapareceu no ar, como um brilho mais forte.
Talvez eu esteja cansado de vagar em meus caminhos
Por tantas terras cheias de cavernas e colinas,
Eu vou encontrar o lugar para onde ela se foi,
E beijar seus lábios e segurar suas mãos;
Caminharemos entre coloridas folhagens,
E ficaremos juntos até o tempo do fim do tempo, colhendo
As prateadas maçãs da lua,
As douradas maçãs do sol.
WILLIAM YEATS
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
O senso comum diz que lemos apenas as palavras. Mas a ideia de
leitura aplica-se a um vasto universo.
Nós lemos emoções nos rostos, lemos os sinais climáticos nas nuvens,
lemos o chão, lemos o mundo, lemos a Vida.
Tudo pode ser página."
MIA COUTO - E se Obama fosse Africano?
Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo
- o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais inapreensível,
seja o presente?
O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o imaginarmos
em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente aparente viria
a ser um pouco o passado e um pouco o futuro.
Ou seja, sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo,
falo de uma coisa que todos nós sentimos.
Se falo do presente, pelo contrário, estarei falando de uma entidade abstrata.
O presente não é um dado imediato da consciência.
Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos
do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há
um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!»,
como dizia Goethe.
O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro;
seria nulo.
O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula
de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.
JORGE LUIS BORGES