Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo
- o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais inapreensível,
seja o presente?
O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o imaginarmos
em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente aparente viria
a ser um pouco o passado e um pouco o futuro.
Ou seja, sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo,
falo de uma coisa que todos nós sentimos.
Se falo do presente, pelo contrário, estarei falando de uma entidade abstrata.
O presente não é um dado imediato da consciência.
Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos
do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há
um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!»,
como dizia Goethe.
O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro;
seria nulo.
O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula
de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.
JORGE LUIS BORGES
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