sexta-feira, 4 de maio de 2012

Para viver não quero
ilhas, palácios ou torres.
Que mais alta alegria,
viver nos pronomes!

Tira-me já esses vestidos,

os sinais e os retratos;
eu não te quero assim,
de outra disfarçada,
filha sempre de algo.
Quero-te livre, pura,
irredutível: tu.
Sei, quando te chamar
entre todas as pessoas
no mundo, que
só tu serás tu.
E quando me perguntares
quem é este que te chama,
este que te quer para si,
os nomes enterrarei,
e os rótulos e a história.
Hei-de rasgar tudo
quanto me deitaram em cima
desde antes do nascimento.
E uma vez regressado ao eterno
anónimo do nu,
da pedra e do mundo,
hei-de dizer-te:
“Eu é que te quero, sou eu.”


PEDRO SALINAS

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