terça-feira, 29 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
relação aos códigos dos sinais cotidianos, e a respeito da
qual a fixidez da linguagem nos engana: enquanto
dependemos deste código, concebemos nossa continuidade,
embora aenas vivamos descontínuos; mas esses estados
descontínuos só concernem ao nosso modo de usar ou de
não usar a fixidez da linguagem: ser consciente é usá-la.
Mas de que modo poderemos jamais saber o que
somos quando nos calamos?
NIETZSCHE
Qualquer caminho leva a toda a parte
Qualquer caminho
Em qualquer ponto seu em dois se parte
E um leva a onde indica a estrada
Outro é sozinho.
Uma leva ao fim da mera estrada. Pára
Onde acabou.
Outra é a abstracta margem
......
No inútil desfilar de sensações
Chamado a vida.
No cambalear coerente de visões
[...]
Ah! os caminhos estão todos em mim.
Qualquer distância ou direcção, ou fim
Pertence-me, sou eu. O resto é a parte
De mim que chamo o mundo exterior.
Mas o caminho Deus eis se biparte
Em o que eu sou e o alheio a mim
[...]
FERNANDO PESSOA
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
É necessário um esforço permanente para vencer as ilusões dos
nossos sentidos. Para isto é preciso procurar conhecer.
O conhecimento é indispensável, mas não é simples, considerando
que até a ideia de simplicidade é também uma de nossas
invenções, um sonho, uma utopia.
A ilusão se situa no centro de nossa consciência, e é onde é
preciso "trabalhar". Trabalho árduo e persistente, porque o
conhecimento é difícil de adquirir - precisamos ser atraídos em
sua direção -, é difícil de manter - aprisioná-lo em convicções,
é um grave erro -, é extremamente árduo de ser desenvolvido,
já que nenhuma verdade está definitivamente inscrita em algum lugar.
Lu
A pedra que no papel nem serve para desenhar
uma reta, dentro d'água faz círculos perfeitos.
Porque a mulher fica nua lhe damos um casaco de peles.
Sonhou que dizia: "Você é a moça dos meus sonhos".
O importante não é o relógio - são as horas.
Há gêmeos tão parecidos que o que não nos conhece
nos cumprimenta.
Não era mulher, era um modelo vivo.
O menino nasceu preto apesar de todo o esforço dos médicos.
O sacerdote deu uma topada e fez um silencio cheio de heresias.
Quando apertamos a campainha vem-nos sempre um certo
receio de que a casa vá para os ares.
Quando a igreja muda de padre parece que este
fala de um Deus novo.
A lavadeira põe o ferro em cima da roupa e o tempo passa.
De cem em cem mil anos o infinito faz um ano.
Pegamos o telefone que o menino fez com duas caixinhas
de papelão e pedimos uma ligação para a infância.
Acreditar que não acreditamos em nada é crer na
crença do descrer.
E dito e feito, tudo foi dito e nada foi feito.
O ator encarna o papel, mas em compensação o açougueiro
empapela as carnes.
Há certos indivíduos que, por terem que botar no correio
uma carta urgente, ficam apressadíssimos.
Atravessou a sala com aquele ar orgulhoso dos
belos transatlânticos.
Quem não tem lenço se despede menos.
Quem mata o tempo não é um assassino. É um suicida.
A mulher do vizinho é sempre mais magra do que a nossa.
Não aceitou o emprego de motorista de ônibus porque
detestava coisas passageiras.
O morcego é o anjo do rato.
No espelho fazemos caretas para ver se somos bonitos.
Ter mais de vinte anos sempre nos pareceu uma injustiça.
Millor Fernandes
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Compreendam o erro estético de submeter tudo a uma lei: aplainar
entedia e enfeia, mundo sem paisagens, livros sem páginas, desertos.
Retirem as coisas belas, nada mais verão. Ver o espaço exige tempo,
não matem o tempo. Evitem o erro simétrico de contentar-se com o
fragmento. Compor exige uma tensão entre local e global, vizinho e
distante, narrativa e regra, a unicidadedo verbo e o pluralismo não analisável
dos sentidos. Visitem a paisagem. Subitamente, serão capazes de ver
ao mesmo tempo, a miniatura e o panorama.
MICHEL SERRES
Os meus ouvidos escutam cada vez menos as conversas, os meus
olhos enfraquecem, continuando porém insaciados.
Vejo as pernas delas de mini-saia, de calças,
ou de tecidos vaporosos,
Espreito cada uma, os seus rabos e coxas, pensativo,
embalado por sonhos porno.
Ó lascivo velho jarreta, estás com os pés para a cova
e não para os jogos e brincadeiras da juventude.
Mas não é verdade, faço apenas aquilo que sempre fiz,
compondo as cenas desta terra, movido pela
imaginação erótica.
Não desejo justamente estas criaturas, desejo tudo,
e elas são como um sinal de convívio extático.
Não tenho culpa de sermos feitos assim, metade de
contemplação
desinteressada e metade de apetite.
Se depois de morrer for para o Céu, lá, terá de ser como aqui,
apenas hei-de livrar-me dos sentidos entorpecidos
e dos ossos pesados.
Transformado em puro olhar, continuarei a absorver
as proporções
do corpo humano, a cor dos lírios, a rua parisiense
na madrugada de Junho.
Enfim, toda a inconcebível, a inconcebível pluralidade
das coisas visíveis.
CZESLAW MILOSZ - poeta lituano
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
e em relação á verdade o que importa não é possuí-la,
mas o impulso que o faz buscá-la. Ele libertou-se da
tradição. Ele exige razões e não fé. O espírito cativo
assume uma posição por hábito e não pelas razões.
Habituar-se a princípios intelectuais sem razões é algo
que chamamos de fé. Como se forma o espírito forte?
De onde vem a energia, a força inflexível,
a perseverança com que alguém opondo-se à tradição,
procura um conhecimento inteiramente individual do mundo?
NIETZSCHE
SENSAÇÃO DE VIVER
Que me enchas a casa de perfumes e de meias
de vidro e me quebres,
com as mais recentes bandas sonoras da vida,
o ritmo dos versos que trato de escrever,
isso posso compreendê-lo.
Compreendo
a arritmia na aritmética, o desprezo que tens
pelos Áustria, os corações vermelhos
na brancura virgem das tuas folhas,
as tuas primeiras dores de mulher,
compreendo isso tudo.
Mas não me provoques, minha filha:
não me tragas para casa tão doces miúdas de quinze anos
com olhos inexplicáveis, com olhares
ainda mais inexplicáveis. Diz-lhes que não pintem
os lábios ao meu espelho, que não te emprestem roupa.
Não metas no meu inferno esses diabos
que me tratam por senhor. Sê boa filha
e evita ao teu pai o duro lance
de morrer de amor pela tua melhor amiga.
PEDRO SEVILLA
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Ninguém avança pela vida em linha reta.
Por vezes, saímos dos trilhos.
Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo
e desaparecemos como pó.
As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem
se sair do mesmo lugar.
No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem
aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver.
Alguns gastam um sem número de vidas no decurso
da sua estadia cá em baixo.
Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam
inelutávelmente para trás, atolados no caminho.
Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de
um homem é para sempre insondável.
É absolutamente impossível que alguém conte a história toda,
por muito limitado que seja o fragmento da
nossa vida que decidamos tratar.
HENRY MILLER
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?...
FERNANDO PESSOA
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
vez de ficar do lado das ideias protetoras. Quando todas essas ideias
protetoras sobre a vida às quais você vem se apegando sucumbem,
você compreende que coisa horrível é isso, e você é isso. Esse é o
arrebatamento da tragédia grega. O que Aristóteles chamava de catarse.
Catarse é um termo ritual e representa a eliminação da perspectiva do
ego: destruir o sistema do ego, destruir a estrutura racional. Esmagá-lo
e deixar que a vida – boom! – surja. O ímpeto dionísico esmaga tudo.
E assim você se sente purgado do seu sistema egocêntrico de
julgamento, pelo qual está vivendo o tempo todo.
JOSEPH CAMPBELL
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
EUGENIO DE ANDRADE
domingo, 6 de dezembro de 2009
Nós vamos ensinar a você o fervor. Nossos atos se
prendem a nós, como ao fósforo sua luz.
Nos consome, é verdade mas fazem nosso esplendor.
E se nossa alma valeu alguma coisa é por ter ardido
mais intensamente do que outras. Vamos ensinar a
você o fervor. Uma existência patética.
Não a tranquilidade. Ser tranquilo é ser trágico.
Eu não almejo outro repouso que o sono da morte.
Espero depois de ter exprimido nesta terra tudo o
que havia em mim, satisfeito morrer completamente.
Desesperado por fazer ainda mais.
Nossa vida há de ser diante de nós como um
copo de água gelada. O copo úmido nas mãos de
quem tem febre e quer beber, e bebe tudo de uma
vez. Sabendo que devia guardar, mas não podendo
tirar dos lábios o copo delicioso. Tão fresca é a água
E tão apaziguadora a sede.
ANDRÉ GIDE
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
início o que se lança para um futuro e o que é consciente
de se projetar no futuro. O homem é primeiro um projeto
que se vive subjetivamente, em vez de ser um musgo, podridão
ou couve-flor; nada existe previamente a esse projeto; nada
existe no céu inatingível, e o homem será em primeiro lugar
o que tiover projetado ser. Não o que tiver querido ser.
Porque o que entendemos ordinariamente por querer é uma
decisão consciente, e para a generalidade das pessoas,
posterior ao que se elaborou nelas. Posso querer aderir
a um partido, escrever um livro, casar-me: tudo isso é
manifestação de uma escolha mais original, mais
espontânea do que se denomina por vontade.
JEAN PAUL SARTRE
Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.
ALBERTO CAEIRO
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
ilude de que poderá cobrir cada metro quadrado
de terra desse globo misterioso.
Na verdade, o aventureiro autêntico chega à conclusão,
muito antes de ter alcançado o fim de suas andanças,
de que existe algo de estúpido na simples acumulação
de experiências maravilhosas.
HENRY MILLER
Sol dos insones! Ó astro de melancolia!
Arde teu raio em pranto, longe a tremular,
E expões a treva que não podes dissipar:
Que semelhante és à lembrança da alegria!
Assim raia o passado, a luz de tanto dia,
Que brilha sem com raios fracos aquecer;
Noturna, uma tristeza vela para ver,
Distinta mas distante-clara-mas que fria!
BYRON
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
... Uma decadência se abaterá... deverá surgir uma nova forma
de filosofia, que será concreta na expressão, e produto da
experiência imediata, não buscará consnso geral, fará pouco
de Deus e proclamará aquele bem que um homem pode
contemplar-se praticando-o, nenhum outro mais.
A decadência do mundo greco-romano foi grande, mas sugeria
bolhas de vida convertidas em mármore, ao passo que o que
nos espera, sendo democrático e primário, pode sugerir bolhas
num lago congelado - luz de estrelas matemática e babilônica...
WILLIAM YEATS
cale o telefone.
Jogue-se ao cão
um osso e que
não ladre mais,
que emudeça o piano e
que o tambor sancione
a vinda do caixão com
seu cortejo atrás.
Que os aviões, gemendo
acima e em alvoroço,
escrevam contra o céu
o anúncio: ele morreu
Que as pombas guardem
luto - um laço
no pescoço.
E os guardas usem finas
luvas cor-de-breu.
Era meu Norte, Sul
meu Leste, Oeste,
enquanto viveu,
meus dias úteis, meu
fim-de-semana
meu meio-dia,
meia-noite, fala e canto:
quem julgue o amor
eterno, como eu fiz,
se engana.
É hora de apagar
estrelas - são molestas,
guardar a lua,
desmontar o sol
brilhante,
de despejar o mar,
jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar
certo doravante.
W. H. AUDEN
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
dispor de poder sobre o espírito das pessoas a fim de impedi-las
de usarem a mente e o sentimento foi o elemento necessário para
a manutenção dis privilégios da minoria.
No entanto, a "elite" obrigada a controlar os "não escolhidos",
tornou-se prisioneira de suas próprias tendências destrutivas.
O guarda que vigia o prisioneiro torna-se quase tão prisioneiro
quanto este. Assim, o espírito humano, tanto dos dominadores
quanto dos dominados, desvia-s de sua finalidade essencial,
a de pensar e sentir humanamente, utilizar e ampliar as faculdades
de raciocínio e de amor inerentes ao homem e sem cujo
desenvolvimento total, ele se torna incompleto.
MICHEL FOUCAULT
Eh! Tanta explicação que nada explica!
Estou sentado no cais, numa barrica,
E não compreendo mais do que de pé.
Por que o havia de compreender?
Pois sim, mas também por que o não havia?
Águia do rio, correndo suja e fria,
Eu passo como tu, sem mais valer...
Ó universo, novelo emaranhado,
Que paciência de dedos de quem pensa
Em outras cousa te põe separado?
Deixa de ser novelo o que nos fica...
A que brincar? Ao amor?, à indif'rença?
Por mim, só me levanto da barrica.
FERNANDO PESSOA
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
caminhos que percorri e que se ramificam como os galhos de
uma árvore. Na obsessão de minha juventude, imaginava a vida
diante de mim como uma árvore.
Chamava-a então de árvore das possibilidades.
É só por um período curto que se vê a vida assim.
Depois, ela aparece como uma estrada imposta de uma vez por
todas, como um túnel do qual não se pode sair.
No entanto, a antiga imagem da árvores permanece em nós
sob a forma de uma indelével nostalgia.
A Identidade - MILAN KUNDERA
O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra
Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas,
Isto é, que a gente achava bobas
Como qualquer troca de confidências entre crianças de cinco anos.
Crianças
Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos
A não ser o azul imenso dos olhos dela,
Olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
Nem no cachorro e no gato da casa,
Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso
E a mesma animal - ou celestial - inocência,
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:
Não, não importava as coisas bobas que diséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto
Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida .
MARIO QUINTANA
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Sua verdadeira vida é invisível, oculta nele. A parte que aparece acima
do solo só dura um único verão e depois murcha - uma aparição efêmera.
Quando pensamos no crescimento e na decadência infinitos da vida e
da civilização, não podemos deixar de ter a impressão de uma absoluta
nulidade. Contudo, nunca perdi o senso de alguma coisa que vive e
permanece sob o eterno fluxo.
O que vemos é o botão, que se vai. O rizoma permanece.
CARL JUNG
Alguma coisa existe que não aprecia o muro,
Que enfia bojos de terra gelada por baixo,
E derrama as pedras superiores ao sol,
E faz buracos onde até dois podem passar abraçados.
O trabalho dos caçadores é outra coisa:
Eu cheguei depois deles e fiz a reparação
Onde não deixaram pedra sobre pedra,
Mas conseguiram pôr a lebre fora do esconderijo,
Para deleitar cães latidores. As brechas, quero dizer,
Ninguém as viu fazer ou as ouviu fazer,
Mas na época primaveril dos arranjos encontramo-as lá,
faço o meu vizinho saber para lá da colina;
E um dia encontramo-nos para percorrer a linha
E assentarmos o muro outra vez entre nós.
Mantemos o muro entre nós enquanto avançamos.
A cada um as pedras que caíram para cada um.
E algumas são formas e outras são tão como bolas
Que temos de usar um feitiço para as equilibrar:
"Fica onde estás até voltarmos as costas!"
Ficamos com os dedos ásperos de as manipular.
Oh, somente outro género de jogo ao ar livre,
Um de cada lado. Mas vai mais longe:
Aí onde se encontra, nós não precisamos de muro:
Ele é todo pinheiros e eu sou um pomar de maçãs.
As minhas macieiras nunca atravessarão
Para comer os cones sob os seus pinheiros, digo-lhe eu.
Ele só me diz, "Boas cercas fazem bons vizinhos."A primavera instiga-me e pergunto-me
Se lhe posso despertar a razão:
"Porque razão fazem bons vizinhos? Isso não é
Onde existem vacas? Mas aqui não há vacas.
Antes de construir um muro eu inquiriria para saber
O que estaria a incluir ou a excluir,
E a quem era suposto ofender.
Alguma coisa existe que não aprecia o muro,
Que o quer no chão”. Poderia dizer-lhe "duendes",
Mas não são duendes exactamente, e eu prefiro
Que ele o diga a si próprio. Vejo-o por ali,
A agarrar uma pedra com firmeza pelo topo
Em cada mão, como um antigo selvagem armado de pedras.
Move-se na escuridão e parece-me,
Não apenas a das florestas e a da sombra das árvores.
Ele não irá atrás do dito de seu pai,
Gosta de ter pensado naquilo tão bem
E diz novamente, "Boas cercas fazem bons vizinhos."
ROBERT FROST