sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra

Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.

Falávamos de coisas bobas,

Isto é, que a gente achava bobas

Como qualquer troca de confidências entre crianças de cinco anos.

Crianças…

Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos

A não ser o azul imenso dos olhos dela,

Olhos que eu não encontrava em ninguém mais,

Nem no cachorro e no gato da casa,

Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso

E a mesma animal - ou celestial - inocência,

Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:

Não, não importava as coisas bobas que diséssemos.

Éramos um desejo de estar perto, tão perto

Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas

Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,

Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia

Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida….



MARIO QUINTANA

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