Desde sempre a espera o habitou como certeza.
Espera e liberdade juntas e planas no nascer. E depois de nascer,
ter de esperar para nascer de novo, pleno. Quantos foram os
meses em que ficou ali, apenas sentindo o mundo, numa espécie
de bolha? A realidade e o real não poderiam - jamais - ser o mesmo,
o de todos. Sem linguagem, sem contatos, movia-se e chorava.
De um nada ao outro. E o que fazer com aquilo que ia se acumulando
dentro? Porque as coisas se acumulavam, a fome atrás de fome,
um choro atrás de choro, uma sombra cega passando atrás de uma
outra sombra cega, e os afetos - Quais? E o que ultrapassava para
o campo do real-real, de seu corpo franzino e desajeitado, daquela
alma que se fazia como a própria natureza bruta? E a realidade e o
real de hoje - jamais - seriam fundado com a mesma sensibilidade
do senso comum. E aqueles meses na incubadora, prematuro,
vivendo mas não vivendo, sendo de outro jeito, foram fundamentais
para a constituição de seu ser.
(texturaincidental.blogspot.com)
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