Mergulhar no pensamento pode ser como mergulhar em contos
infantis, podemos ser uma espécie de Alice deslumbrada.
Podemos também encontrar masmorras e prisões perpétuas.
Depende daquilo que procurarmos. Mais incrível do que não
termos sempre esta consciência de nós próprios é o tão pouco
que temos esta mesma consciência em relação aos outros.
Está uma mulher sentada à nossa frente no autocarro, está o
nosso pai, estás tu, e não somos sempre capazes de imaginar
que, depois do rosto, ou sobre o rosto, invisível, está um choque
frontal de palavras, está uma intermitência de frases, está uma
imagem fixa, melodia, timbre de voz, etc. Apesar de já ter sido
usado neste texto, "pensamento" parece-me um termo desadequado
porque implica atenção. Estas palavras e imagens e melodias
organizam-se em enxame. Mesmo quando oferecemos a atenção ao
mundo, elas continuam lá, dentro de nós como se estivessem
à nossa volta.
José Luis Peixoto - escritor português
Enquanto o caos segue em frente
Há 8 anos
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