terça-feira, 15 de setembro de 2009

Pensou: 'Muito barulho à toa, por nada. Por nada'.
Essa vida era–lhe dada à toa, ele não era nada e, no
entanto, não mudaria mais. Estava formado.
Tirou os sapatos e ficou imóvel, sentado no braço da
poltrona, um sapato na mão. Sentia ainda no fundo da
garganta o calor adocicado do rum. Bocejou.
O dia estava acabado e acabava sua mocidade.
Morais comprovadas já lhe ofereciam seus serviços.
O epicurismo desabusado, a indulgência sorridente, a
resignação, a seriedade de espírito, o estoicismo, tudo
isso que permite apreciar, minuto por minuto, como
bom conhecedor, uma vida malograda. Tirou o paletó,
pôs–se a desfazer o nó da gravata. Repetia bocejando:
– Não tem dúvida, não tem dúvida, estou na idade da razão.



JEAN PAUL SARTRE - Filósofo existencialista

Nenhum comentário:

Postar um comentário