segunda-feira, 16 de dezembro de 2013



Habituei-me à simples alucinação. Acabei por
considerar sagrada a desordem de minha
inteligência.



RIMBAUD

Não somos nem bons enm maus
Somos tristes.
Plantados entre chão e estrelas,
Lutamos com sangue,
Pedras e paus, sonho e arte.
Nem vida, nem morte:
Somos a lúcida vertigem,
Glória e danação.
Somos gente:
Dura tarefa.
Com sorte, aqui e ali a ternura
Faz parte.



LYA LUFT

Inspiração é quando a gente não sabe de onde a ideia vem.

Na ciência é o contrário: é preciso explicar o caminho que

se tomou para chegar à ideia. É esse caminho que tem o

nome de método. Seguindo o mesmo caminho, qualquer

outro cientista poderá chegar à mesma ideia. Na literatura

é o contrário: o escritor não sabe de onde as ideias vêm.

Portanto não se pode ensinar o caminho. A ciência é a

caça de um pássaro definido de antemão que, depois de

apanhado, será preso numa gaiola de palavras. Mas a

inspiração não é uma caça; ela chega em momentos

de distração, ou seja, ela não tem método: o pássaro

pousa no nosso ombro, sem que o tivéssemos

procurado. Picasso explicou o seu método: " eu não

procuro. Eu encontro."



RUBEM ALVES

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013


"As recordações não povoam nossa solidão, como dizem, ao contrário, fazem-na mais profunda."
 
 
 

Gustave Flaubert


" A vida é uma preparação para a velhice. A afirmação de que "a vida é uma preparação para a morte" é uma das mais vãs e lamentáveis máximas da humanidade, infelizmente invocadas por homens da categoria de um Sócrates, de um Pascal. Mas é absurda, a não ser que pensemos que o homem "retorna" da morte à vida. preparar-se para um estado sem conteúdo? Para um limiar, na melhor das hipóteses?  Para o nada, na pior? Não. A vida é uma longa preparação para o momento de glória em que o homem pode, enfim, realizar algo "por si mesmo", em que ele pode estar verdadeiramente em ato: uma preparação para o envelhecimento.
 
Se a vida não representa um crescendo, então não passa de um simples assunto de biologia. Quanto esplendor no envelhecimento - não na velhice, se a considerarmos sinônimo de decrepitude -, quanto esplendor nessa hora em que os pendores da vida se extinguem um a um, em que já não resta senão o essencial de nosse ser; essa hora em que vemos que tudo tendeu para um único ponto de acumulação, no qual se condensa e precipita nossa vida inteira. Estamos livres então de todas as tutelas, da espécie, da sociedade e até de nossos vãos impulsos e de nossas ambições; totalmente livres para nos tornar enfim homem, sujeito, e deixar de ser, assim, os pobres títeres que todos manipulavam. Deixamos de lado também todas as nossas esperanças insensatas - de que aconteça alguma coisa, de que o mundo inteiro vá mudar. Já não podemos aguardar, adiar, ter esperança. E é por isso que esta idade é a única em que não vivemos "em suspensão".
 
Os que envelhecem com plenitude - pouco numerosos, mas tão essenciais para o mundo - envelhecem como "supernovas" da humanidade: luzem com brilho sem igual e extinguem-se numa terrível explosão."
 
 
Constantin Noica

O vento sopra pelas portas do dia.
 
O vento sopra nos corações solitários;
 
Os corações solitários fenecem e morrem.
 
Enquanto ao longe dançam as fadas,
 
Dançam com seus pés da alvura do leite,
 
Balançando seus braços,
 
Aos seus ouvidos, o vento ri,
 
Murmura e canta sobre uma terra
 
Onde até os velhos são belos
 
E até os sábios trazem alegria nos lábios;
 
Mas ouvi um junco dizer:
 
Quando o vento ri, murmura e canta,
 
Os corações solitários fenecem e morrem.
 
 
WILLIAM BUTLER YEATS