quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tomey Sestowski

" Para as pessoas despreparadas, todas as leituras,
todos os filmes e todas as viagens são
experiências banais e de poucos frutos."


Marshall McLuhan

Igor Gorin

Quando a criança cresceu e abandonou os seus jogos, quando
durante anos se esforçou psiquicamente por agarrar as
realidades da vida com a seriedade desejada, pode acontecer
que um dia se encontre de novo numa disposição psíquica
que volta a apagar esta oposição entre o jogo e a realidade.
O homem adulto lembra-se da grande seriedade com que
se entregava aos jogos infantis e acaba por comparar as suas
ocupações por assim dizer graves com esses jogos dos
tempos da infância: liberta-se então da opressão demasiado
pesada da vida e conquista a fruição superior do humor.




Sigmund Freud
Se cada um de vós,
ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão –
se cada um de vós abrisse um livro de poemas…
faria uma verdadeira viagem…
Num livro de poemas se descobre de tudo,
de tudo mesmo!
- Inclusive o amor e outras novidades.



Mário Quintana

quarta-feira, 18 de abril de 2012

" O filósofo é o homem que se torna singular - rompe

com os juízos prontos, com os valores estabelecidos,

com os imperativos de uma sociedade fechada."


MARCEL CONCHE

Maxime Maufra

" Eu sou um homem espanhol, ou seja, um homem sem imaginação.
Um homem que ama as coisas em sua pureza natural, que
gosta de recebê-las tal como são, com claridade, recortadas
pelo meio-dia, sem que se confundam umas com outras,
sem que eu ponha nada sobre elas: sou um homem que
quer, antes de tudo, ver e tocar as coisas e que não se
contenta imaginando-as: sou um homem sem imaginação".



Ortega y Gasset

FIZESTE BEM EM PARTIR,
ARTHUR RIMBAUD!

Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud!
Teus dezoito anos refratários à amizade, à malevolência,
à bobeira dos poetas de Paris, assim como ao zunzum de abelha
estéril de tua família ardenesa um pouco doída,
fizeste bem espalhá-los aos quatro ventos, em jogá-los sob a
lâmina de sua guilhotina precoce.
Tiveste razão em abandonar o bulevar dos preguiçosos,
os botequins, os mija-liras, pelo inferno das feras,
pelo comércio dos espertos e o bom-dia dos simples.

Este impulso absurdo do corpo e da alma,
esta bala de canhão que explode seu alvo, sim,
é isso mesmo a vida de um homem!
Não se pode, indefinidamente, saindo da infância,
estrangular seu próximo.
Se os vulcões mudam pouco de lugar, sua lava
percorre o grande vazio do mundo levando
virtudes que cantam em suas feridas.

Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud!
Ainda há quem creia, sem provas,
que contigo a felicidade é possível.


RENÉ CHAR

segunda-feira, 16 de abril de 2012

James Ensor

Quero comer bolo de noiva, puro açúcar
puro amor carnal disfarçado de corações e sininhos:
um branco, outro cor-de-rosa, um branco, outro cor-de-rosa

Adélia Prado

Holly Sierra

TERESA





A primeira vez que vi Teresa

Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna


Quando vi Teresa de novo

Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)


Da terceira vez não vi mais nada

Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.


MANUEL BANDEIRA

“La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos; con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra ni el mar encubre; por la libertad así como por la honra se puede y debe aventurar la vida, y, por el contrario, el cautiverio es el mayor mal que puede venir a los hombres. Digo esto, Sancho, porque bien has visto el regalo, la abundancia que en este castillo que dejamos hemos tenido; pues en mitad de aquellos banquetes sazonados y de aquellas bebidas de nieve me parecía a mí que estaba metido entre las estrechezas de la hambre, porque no lo gozaba con la libertad que lo gozara si fueran míos, que las obligaciones de las recompensas de los beneficios y mercedes recebidas son ataduras que no dejan campear al ánimo libre. ¡Venturoso aquel a quien el cielo dio un pedazo de pan sin que le quede obligación de agradecerlo a otro que al mismo cielo!”



Miguel de Cervantes - «El ingenioso caballero don Quijote de La Mancha», Capítulo LVIII

domingo, 15 de abril de 2012

Todo o amor é fantasia
- ele inventa o ano, o dia,
a hora e a melodia;
inventa o amante e, mais,
a amada. Não prova nada,
contra o amor, que a amada
não existisse nunca.



Antonio Machado

Paul Cadmus

ODE AO LIVRO








Nós
os poetas caminheiros
explorámos o mundo, a cada porta
recebeu-nos a vida,
participámos na luta terrestre.
A nossa vitória qual foi?
Um livro, um livro cheio
de contactos humanos,
de camisas, um livro
sem solidão, com homens
e ferramentas, um livro
é a vitória. Vive e cai
como todos os frutos,
não só tem luz,
não só tem sombra,
apaga-se,
desfolha-se,
perde-se de rua em rua,
despenha-se na terra.
Livro de versos
de amanhã, volta
outra vez a ter neve ou musgo
nas tuas páginas
para que os pés
ou os olhos vão gravando sinais:
descreve-nos
de novo o mundo, as fontes
entre a espessura,
os altos arvoredos,
os planetas polares,
e o homem
nos caminhos,
nos novos caminhos,
avançandona selva, na água, no céu,
na mais nua solidão marinha,
o homem
descobrindo os últimos segredos,
o homem
regressando com um livro,
o caçador
tornando a casa com um livro,
o camponês
lavrando com um livro.



Pablo Neruda


Polenov

“Da infância à morte, a ilusão envolve-nos. Só vivemos por ela e só

ela desejamos. Ilusões do amor, do ódio, da ambição, da glória,

todas essas várias formas de uma felicidade incessantemente

esperada, mantêm a nossa actividade. Elas iludem-nos sobre os nossos

sentimentos e sobre os sentimentos alheios, velando-nos a dureza do destino.


As ilusões intelectuais são relativamente raras; as ilusões afetivas

são cotidianas. Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar

racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas do

inconsciente. A ilusão afectiva persuade, por vezes, que entes e

coisas nos aprazem, quando, na realidade, nos são indiferentes.

Faz também acreditar na perpetuidade de sentimentos que a evolução

da nossa personalidade condena a desaparecer com a maior brevidade.


Todas essas ilusões fazem viver e aformoseiam a estrada que conduz ao

eterno abismo. Não lamentemos que tão raramente

sejam submetidas à análise.”

Gustave Le Bon - As Opiniões e as Crenças







sábado, 14 de abril de 2012

Jean-Claude Gaugy

Há tanta solidão nesse ouro.
A lua das noites não é a lua
do primeiro Adão. Os longos séculos
da vigília humana encheram-na
de antigo pranto. Olha para ela. É o teu espelho.






JORGE LUIS BORGES

Jacques Linard

Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das suas águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
como nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia.




EUGÊNIO DE ANDRADE
Acredito que ao morrer apodrecerei e nada do meu eu sobreviverá.
Não sou jovem e amo a vida. Mas desdenho tremer de terror
à idéia do aniquilamento. A felicidade não se torna menos verdadeira
por ter que chegar ao fim, e o pensamento e o amor não perdem
o seu valor por não durarem para sempre. Muitos homens já se
portaram orgulhosamente no cadafalso; certamente o mesmo
orgulho deveria nos ensinar a pensar verdadeiramente sobre o
posto do homem no mundo. Mesmo se inicialmente as janelas
abertas da ciência fazem-nos tremer após o quente aconchego
dos mitos antropomórficos tradicionais, no final o ar fresco
revigora, e os grandes espaços têm o seu próprio esplendor.




BERTRAND RUSSELL

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Maximilien Luce

A ordem humana segue sendo só uma desordem;
é injusta e precária; nela se mata e se morre de fome;
mas pelo menos a fundam, a mantêm e a combatem, os homens.


Sartre

Theo van Rysselberghe

O acaso tem suas mágicas, a necessidade não.
Para que um amor seja inesquecível,
é preciso que os acasos se juntem
desde o primeiro instante,
como os passarinhos sobre os ombros
de São Francisco de Assis.



MILAN KUNDERA

A poesia é branca:
sal de água envolta em gotas,
enruga-se e amontoa-se,
é preciso estender a pele deste planeta,

é preciso engomar o mar com a sua brancura
e vão e vêm as mãos ,
alisam as sagradas superfícies
e assim se engedram as coisas:

dia a dia fazem as mãos o mundo,
une-se o fogo ao aço,
chegam o linho, o algodão e o cotim

da faina das lavandarias
e nasce da luz uma pomba:
a pureza regressa da espuma.


Pablo Neruda

terça-feira, 10 de abril de 2012

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se
em manhãs de domingo.

Thiago de Mello

O mundo é feito de pontos. São muitos se forem pontos de vista.
Poucos se forem pontos estratégicos.
Muito úmidos se forem pontos de chuva.
O mais gostoso é ponto de encontro, mas às vezes desencontra.
Ou pontos de luz, um homem e uma mulher nus.
Todos são pontos. O caminho entre dois, uma reta.
Uma linha. Um caminho que caminha sozinho.
Fim da linha. Ou do fio. Fio da meada é na conversa.
Conversas são feitas de pontos de enfoque.
O palco também. Amores são pontos em comum.
Os pontos são um.

Estrela Leminski

Igor Gorin

Hoje te canto e depois no pó que hei de ser
Te cantarei de novo. E tantas vidas terei
Quantas me darás para o meu rosto outra vez amanhecer
Tentando te buscar. Porque vives de mim, Sem Nome,
Sutilíssimo amado, relincho do infinito e vivo
Porque sei de ti a tua fome, tua noite de ferrugem
Teu pasto que é o meu verso orvalhado de tintas
E de um verde negro teu casco e os areais
Onde me pisas fundo. Hoje te canto
E depois emudeço se te alcanço. E juntos
Vamos tingir o espaço. De luzes. De Sangue.
De escarlate.



Hilda Hilst

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Eugene Boudin

" As épocas sobre as quais gostamos de ler não eram
as épocas nas quais fosse agradável viver."




Macaulay

Mark Petit

" A guerra não é outra coisa senão uma mudança
tecnológica acelerada. Ela ocorre quando as desigualdades
dos índices de crescimento provocam um desequilíbrio
acentuado entre as estruturas existentes.
Agora que o homem projetou para fora seu sistema
nervoso central por meio da tecnologia elétrica,
o campo de batalha se deslocou para a estrutura mental
criadora e destruidora de imagens,
tanto na guerra como nos negócios."


Marshall McLuhan

Oleg Zhivetin

Atraso Pontual

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?



PAULO LEMINSKI


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Portinari

" Escravo ou imperador - em todas as coisas, existe o que depende de nós e o que não depende de nós."

EPITETO


Quão pouco de nossa vida é ocasião,

oportunidade de receber o bem;


e quão pouco dessa ocasião nós


apreendemos e mantemos junto a nós?


Qual perplexa e intrincada teia de aranha é a felicidade


do homem aqui, que deve entrar em acordo


com a cautela de se manter sob a ocasião, que


nada é além de um pequeno pedaço daquilo


que é nada, o tempo?





JOHN DONNE

Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.

ANTONIO MACHADO

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Oana Lauric

" A vida não faz qualquer pausa para nos lembrar que está indo embora.
Só você mesmo pode manter isso em mente."


SÊNECA

Roger Job

Quando o dia cai, a noite cai também. Estranho, não?
Há aí um contra-senso que nos deveria advertir
quanto à desordem semântica da língua.
Por que a noite não tem o direito de nascer
como o dia?
E, no entanto, ela nasce.
Algumas noites, nós as vemos nascer,
crescer do fundo do horizonte,
invadir o espaço como um astro,
segundo um movimento ascendente vindo
da Terra.
E os objetos, perdendo sua luz aos poucos,
emergem numa forma nova,
em sua essência noturna.
Mas para nós nem a noite
nem o Mal tem essência própria.



JEAN BAUDRILLARD

Erika Hopper

Translúcido

Rosas raras se alçavam puras
Eu sonho que vivi sempre exaltado.
Amo os danos do mundo, quero a chama
Do mundo, vós, paixões do mundo. E penso:
Estrangeiro não sou, pertenço à terra.
Um céu abriu as mãos sobre o meu rosto.
Barcos de prata cantam vagamente.
Pensando, desço então pelas veredas
Do mar, do mar, do mar !
Sinto-me errante.
Que faz no meu cortejo essa alegria ?
O tempo é meu jardim, o tempo abriu
Cantando suas flores insepultas.
Canta, emoção antiga, meus amores,
Canta o sentido estranho do verão,
Canta de novo para mim que fui
Vago aprendiz de mágico, abstrata
sentinela do espaço constelado.
Conta que sempre sou, quem fui, menino.
A pantera do mar da cor de malva
Uivava sobre a vaga chamejante.
Eu sonho que vivi sempre exaltado.
Meu pensamento forte é quase um sonho.
Nos meus ombros, o pássaro final.
Íntimo, atroz, lirismo a que me oponho.
Quando a manhã subir até meus lábios
Suscitarei segredos novos. Ah!
Esta paixão de destruir-me à toa.

Paulo Mendes Campos

terça-feira, 3 de abril de 2012

William Kentridge

Somos mais que corpos e ansiedade: somos mistério, o

que nos torna maiores do que pensamos ser -

maiores do que nossos medos.

LYA LUFT

Toulouse Lautrec

Quando os mais convencionais se inserem no que se

denomina atualidade, perdem com isto a qualidade e

a eficácia dos atos. O realismo sugere pontos de vista

desastrosos.

Se quer perder sua alma, trabalhe para salvá-la; porque

no final das contas, só salva sua alma quem pareceu

perdê-la. Aposte alto. Imagine, invente, projete,

alguma coisa sempre permanece. Por vezes, a sorte

sorri para a audácia, a única coisa inteligente.

MICHEL SERRES

Henri Cartier-Bresson

O tempo minucioso, que na memória é breve,

Foi me furtanfo as formas visíveis deste mundo

Os dias e as noites limaram os perfis

Dessas letras humanas e dos rostos amados;

Em vão interrogaram meus olhos fatigados

As vazias bibliotecas e os vazios atris

O azul e o vermelho são agora cerração

Duas palavras inúteis.

O espelho que miro

É uma coisa cinzenta

No jardim eu aspiro, amigos,

Uma lúgubre rosa da escuridão.

Agora só perduram contornos amarelos,

E só consigo ver para ver pesadelos.

JORGE LUIS BORGES

domingo, 1 de abril de 2012

James Whistler

" Em escala global, nenhuma criatura pode ter tanta importância; mas de outra perspectiva esses "eus" são a única coisa importante. E só uma política que os reconheça representa alguma esperança para o futuro."


LEONARD WOOLF

Martha Walter

" Só em parte somos sãos: só uma parte
nossa ama o prazer e um dia mais prolongado
de felicidade.
Nossa outra metade é quase louca.
Prefere o desagradável ao agradável,
ama a dor e seu sombrio desespero
noturno e quer morrer numa
catástrofe que
mandará a vida de volta ao começo..."



REBECCA WEST

Canção excêntrica

Ando à procura de espaço

para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre o meu passo,

é já distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,

começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço
- do que faço, arrependida.


Cecília Meireles