segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Frederic Louis Leve
" A Arte é a coisa mais próxima da vida; é uma forma de aumentar
a experiência e ampliar nosso contato com nossos semelhantes
para além de nosso destino pessoal."
 
 
 
George Eliot
 
Anne Bachelier
«O verdadeiro sentido da honra é a recusa em pactuar com o que é feio,
baixo, vulgar, interesseiro, não gratuito; uma recusa de se vergar perante
a força só por ser a força, perante a paz só por ser a paz,
perante o bem-estar só por ser o bem-estar.
A honra implica, naquele que a possui, um sentido altivo e resoluto do risco,
do jogo onde se arrisca perder a vida ou ganhar a estima dos pares,
um sentido do trágico do destino e também da dignidade do infortúnio.»



Lucien Febvre

De vez em quando a alegria
atira pedrinhas em minha janela
quer avisar-me que está lá esperando
mas hoje me sinto calmo
quase diria equânime
vou guardar a angústia em seu esconderijo
e logo estender-me de cara ao teto
que é uma posição galharda e cômoda
para filtrar notícias e acreditar nelasquem sabe onde ficam minhas próximas pegadas
nem quando minha história vai ser computada
quem sabe que conselhos vou inventar ainda
e que atalho acharei para não segui-los

está certo não brincarei de despejo
não tatuarei a recordação com esquecimentos
muito fica por dizer e calar
e também ficam uvas para encher a boca

está bem me dou por persuadido
que a alegria não atire mais pedrinhas
abrirei a janela
abrirei a janela.
 

 MARIO BENEDETTI

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Irma Kuziani
"Sua ideias razoáveis são como dois grãos de trigo

perdidos em dois alqueires de palha:

gastais um dia inteiro para encontrá-los, mas,

uma vez achados, não compensam o trabalho."



WILLIAM SHAKESPEARE


Gleb Goloubetski
" Perante nós mesmos devemos prestar contas

para demonstrar que nascemos para a independência.

Jamais ficar presos a uma pessoa, ou a uma pátria, a uma ciência.

Não se ficar preso às próprias virtudes e ser vítima por completo

de uma das nossas singularidades.

Necessário é saber reservar-se,

que é exatamente a prova mais forte de independência."


NIETZSCHE

Ignácio Basauri
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.


 

FERNANDO PESSOA

terça-feira, 22 de janeiro de 2013


" A guerra é a máxima falácia redutiva, pois,
a fim de matarmos nosso inimigo,
temos de acreditar no pior que se pode crer acerca dele."
 
 
Harold Bloom

" A reprodução de um número cada vez maior de imagens em jornais,
revistas e livros, o advento do cinema e, por fim, da televisão,
levou a uma situação em que a imaginação regular de grandes massas
de pessoas tornou-se mais pictórica do que verbal.
Junto com a ampliação do público leitor, a influência dos livros
começou a se reduzir - acompanhando também o declínio do alcance
da atenção das pessoas ou de sua capacidade de concentração
ou até de escutar.
Com a propagação cada vez maior da informação e da comunicação,
os hábitos de leitura decresceram ainda mais."
 
 
John Lukacs
Salvador Dalí
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada

Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início

O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu  porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo

Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


Eu aprendi a andar, consequentemente corro.
Eu aprendi a voar, logicamente não quero que
me empurrem para mudar de posição.
Agora sou leve, agora voo;
agora vejo por baixo de mim mesmo,
agora salta em mim um deus.



NIETZSCHE

O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas.
Se insinua nos nossos hábitos com a facilidade que outra droga não
 tem, se prova sem se querer, como um veneno dado.
 Não dói, não descora, não abate - mas a alma que dele usa fica
 incurável, porque não há maneira de se separar do seu 
veneno, que é ela mesma.

 O sonho deve ser olhado alto, com uma consciência aristocrática 
de o estar fazendo existir. Dar demasiada importância ao sonho
 seria dar demasiada importância, afinal, a uma coisa que se 
separou de nós próprios, que se ergueu, conforme pode, em realidade,
 e que, por isso, perdeu o direito absoluto à nossa delicadeza para com ela.

 Sonho porque sonho, mas não sofro o insulto próprio de dar
 aos sonhos outro valor que não o de serem meu teatro íntimo.


FERNANDO PESSOA
Alphonse Mucha
Meu coração, teu coração?
Quem me reflete pensamentos?
Quem me empresta
Esta paixão sem razões?
Por que muda minha roupa de cores?
Tudo é encruzilhada!
Vejo-me através de ocasos,
E um formigueiro de gente
Anda por meu coração.
 
 
 
GARCIA LORCA

terça-feira, 8 de janeiro de 2013


 " Aquilo a que certa literatura preguiçosa chamou durante muito tempo
silêncio eloquente não existe; os silêncios eloquentes são apenas
palavras que ficaram atravessadas na garganta,
palavras engasgadas que não puderam escapar ao aperto da glote."
 
 
SARAMAGO

No teatro, a verdade esquiva-se sempre. Nunca a encontramos por completo,
mas é forçoso procurá-la. Essa busca é claramente aquilo que guia os nossos
esforços. É essa a nossa tarefa. Na maioria das vezes é no escuro que tropeçamos
na verdade, esbarramos nela, ou vislumbramos uma imagem ou uma forma
que parece corresponder à verdade, muitas vezes sem nos darmos conta disso.
Mas a verdade verdadeira é que, na arte do teatro, não há nunca uma verdade
única que possamos encontrar. Há muitas. Estas verdades desafiam-se mutuamente,
fogem, reflectem-se, ignoram-se, espicaçam-se, são insensíveis umas às outras.
Às vezes pensamos que temos a verdade de um momento na mão,
e depois ela escapa-se-nos por entre os dedos e desaparece.
 
 


Harold Pinter

O Sono de Percival

O justo é injusto, o injusto justo é.
Débil julguei ouvir tua voz a desoras.
Um lamento lento, por certo a voz
do vento. Secarei, talvez como o feno,
não dormindo, nem noites, nem dias.

Soluço abafado, sussurro apenas
perceptível após a brancura
obliterante do relâmpago,
quando cessa o fragor que o excede
e a chuva cai e tudo se cala,

terei ouvido tua voz. Secarei,
talvez, como o feno. O justo
é injusto, o injusto justo é.
Procurei no horto e no deserto,
sob o cavo ruído das torrentes

subterrâneas, na imemorial
pedra circular com que o humano
terror balizou os horizontes
do tempo. No espectro da rosa
dos ventos, no vento espectral

da rosa. Seria a voz do vento,
pintura da minha imaginação
doente, a vigília do sono,
a febre dos sentidos,
não dormindo noites e dias

para ouvir tua voz. O justo
é injusto, o injusto justo é
para ouvir tua voz.
Secarei como o feno.
Para ouvir tua voz.

Rui Knopfli

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013


 " Somos criaturas físicas que percebem e conhecem o mundo por meio do corpo,
e mesmo assim passamos a maior parte do nosso tempo em um universo
de informação sem materialidade.
Ele não vive conosco, nós apenas o observamos por uma tela de
duas dimensões.
Em um nível muito profundo da consciência, isso é árduo e esgotante."
 
 
William Powers
Joana Lemanska
 " Uma das hipóteses mais defendidas pela cultura moderna é que, quando uma tecnologia nova surge, automaticamente, torna obsoletas as antigas que faziam basicamente a mesma coisa. Um caso clássico é a charrete. Quando se trocou carruagens por automóveis, no começo do século XX, praticamente deixou de haver necessidade de charretes, e elas desapareceream. Contudo, nem sempre é assim. Tecnologias mais antigas costumam sobreviver à introdução das mais novas, quando ainda são capazes de ter função de um modo que os novos aparelhos não podem fazer. O melhor exemplo disso é a porta com dobradiças. Veja um filme de ficção científica e preste atenção. Vai perceber que casas, escritórios e naves espaciais do "futuro" quase sempre têm portas de correr. Os cineastas sempre acreditaram que no futuro não haverá mais portas com dobradiças; porque dobradiças são algo careta e desconfortável, cheia de rangidos, enquanto portas de correr economizam espaço, são mais elegantes e mais futuristas. Dessa forma, no pensamento popular as dobradiças estão sempre à beira da extinção.
 
Mas por que então as portas de dobradiças continuam conosco? Porque, embora as portas de correr sejam esteticamente atraentes, na verdade elas apenas deslizam para lá e para cá, enquanto que as portas com dobradiças são mais interessantes exatamente por causa da forma como ocupam espaço, e se movimentam nele. É possível sair detrás de uma porta dessas e surpreender alguém. É possível bater muito alto uma porta com dobradiças para extravasar a raiva ou fechá-la com muito cuidado para não acordar alguém. Uma porta com dobradiças é uma ferramente expressiva. Ela responde ao nosso corpo de uma forma que as portas de correr não respondem."
 
 
 
 
 
 
WILLIAM POWERS - O BLACK BERRY DE HAMLET
Jean Delville
                                  Plano


Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos, que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro. 


Nuno Júdice