quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas.
Se insinua nos nossos hábitos com a facilidade que outra droga não
 tem, se prova sem se querer, como um veneno dado.
 Não dói, não descora, não abate - mas a alma que dele usa fica
 incurável, porque não há maneira de se separar do seu 
veneno, que é ela mesma.

 O sonho deve ser olhado alto, com uma consciência aristocrática 
de o estar fazendo existir. Dar demasiada importância ao sonho
 seria dar demasiada importância, afinal, a uma coisa que se 
separou de nós próprios, que se ergueu, conforme pode, em realidade,
 e que, por isso, perdeu o direito absoluto à nossa delicadeza para com ela.

 Sonho porque sonho, mas não sofro o insulto próprio de dar
 aos sonhos outro valor que não o de serem meu teatro íntimo.


FERNANDO PESSOA

Nenhum comentário:

Postar um comentário