segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

De vez em quando a alegria
atira pedrinhas em minha janela
quer avisar-me que está lá esperando
mas hoje me sinto calmo
quase diria equânime
vou guardar a angústia em seu esconderijo
e logo estender-me de cara ao teto
que é uma posição galharda e cômoda
para filtrar notícias e acreditar nelasquem sabe onde ficam minhas próximas pegadas
nem quando minha história vai ser computada
quem sabe que conselhos vou inventar ainda
e que atalho acharei para não segui-los

está certo não brincarei de despejo
não tatuarei a recordação com esquecimentos
muito fica por dizer e calar
e também ficam uvas para encher a boca

está bem me dou por persuadido
que a alegria não atire mais pedrinhas
abrirei a janela
abrirei a janela.
 

 MARIO BENEDETTI

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